quinta-feira, 7 de abril de 2011

Onze brasileirinhos

Os Estados Unidos são aqui? A morte e a tragédia se manifestam sempre vis e eloqüentes. Calam o cidadão, calam a gente. Calam um país. De que matéria é feita esses fatos que acordam nossa indignação e nos deixam tartamudos e nos fazem pensar, espantados, de que matéria somos feitos? O que leva alguém a entrar numa escola repleta de crianças, “brasileirinhos”, como os chamou a presidente Dilma, cheios de vida e planos e atirar contra eles? A tragédia no Rio, numa escola do Realengo, que aconteceu nesta quinta estranha é um soco no estômago. Uma lição de como estamos expostos a nossa loucura, a uma realidade cada vez mais parecida com uma fita de cinema. E, pessoas comuns, atores desavisados dessa doído filme cotidiano, viram manchetes incômodas, espelhos do que pode acontecer a todos.

Somos os Estados Unidos que testemunharam tragédias parecidas? Parecíamos tão longe disso tudo. Já não estamos agora. Podemos até ser mais afáveis que os norte-americanos, traço sempre realçado de nossa alegre personalidade, mas somos loucos do mesmo jeito. Morreram onze brasileirinhos. Com nomes, famílias, carrinhos coloridos, bonecas despenteadas, amigos, com pouca idade e tanta coisa pra fazer. Tanta coisa. Morremos um pouco todos nós, brasileiros e brasileirinhos, e também morre um pouco nossa santa ingenuidade. As tragédias não medem choro e perplexidade. São tsunamis em nossas entranhas que devastam um pouco de nossa já combalida humanidade. E toda essa inquietante tristeza que ela causa faz com que reflitamos sobre o que o tempo e uma moral sempre em cheque faz com nossa alma.

Perdemos onze brasileirinhos. Com dentes esbaldando sorrisos, com línguas aprendendo o vocabulário, com olhos abraçando o mundo, com pés miúdos aprendendo a dar passos largos. Perdemos tudo isso. Só não podemos perder a capacidade de transformar essa tragédia na promessa de que nunca vamos nos conformar com isso, nunca vamos deixar que isso pareça banal. Porque para cada louco que atira contra a humanidade, contra ser humano, tem que haver um milhão de pessoas prontas para defendê-la. Choremos e sejamos humanos. E vamos rezar também para que esta quinta-feira estranha tenha sido apenas um tropeço estúpido na história de nosso país rumo a uma arquitetura da paz. Aqueles brasileirinhos que, injustamente, não vivem mais entre nós merecem.