quinta-feira, 29 de julho de 2010

Para ler ouvindo tulipas

Estou fazendo campanha política. Esse fazer tem um peso e comprometimento descomunais. É como entrar num tobogã gigantesco eivado de curvas e emoções inesperadas. De ondas desencontradas de sentimentos afoitos. Raiva, prazer, ódio e sapos engolidos, sapos vomitados. E aqueles bastidores, o melhor da festa, onde tudo acontece. E tudo aquilo que vale a pena: a alegria de um projeto realizado, os personagens animados que vestem a camisa, estufam o peito e saem agitando bandeiras mal impressas. O testemunhal do sinhozinho daquele bairro pobre, esparramando honestidade em cada frase construída. E o brilho intenso no olhar de quem realmente se entrega ao debulhar inclemente da câmera de vídeo. E aquilo que faz pensar se realmente vale a pena: gente com choro represado e outros com choro solto rendidos a pressão das horas. As horas que passam lentas e que desafiam o sono, que não pode chegar. A briga contra o cansaço que namora a cama morna que vira nuvem que abraça o guerreiro morno. Noites não dormidas, noites mal dormidas. Mas, no fim, tem aquele amanhecer iluminado contaminando a esperança de que tudo termine bem naquele dia para que a alma se refestele, lá na frente, nos braços da vitória. Ah, campanha política. Dói, mas é uma delícia.

P.S.: Diante desse quadro, este todoouvido faz uma pausa de alguns meses. Todo ouvido agora só para jingles políticos e discursos nos palanques. Até mais ver. Enquanto isso, ouça tulipa.