terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Fróes é foda

Minha lista dos melhores álbuns brasileiros de 2009 não tem preconceito. Une samba, rock e MPB no mesmo balaio afetivo. Afinal, nossa música é mesmo assim, aberta às misturas e temperos que nossa cultura, vasta cultura, oferece. E, ao contrário do que aconteceu lá fora, 2009 foi um ano extremamente positivo, pelo menos no lado mais iluminado da lua, aquele onde as rádios e TVs comandadas pelos barões do jabá não pegam lá muito bem. Ouvidos abertos e pesquisa feita, este foi o ano dos grandes retornos. Tivemos boas bandas voltando com discos maduros, como Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta e Numismata. Fomos brindados com novas alianças de velhos mestres, como João Bosco e Aldir Blanc, que fizeram de Não Vou pro Céu mas já não Vivo no Chão, vice-líder de minha seleção, um dos álbuns mais tocantes e poéticos do ano. Depois da estréia, vimos a manhosa Céu finalmente dando continuidade, com toda coerência, a sua carreira com o encantador e espertíssimo Vagarosa e Tiê fazendo seu batismo de fogo com Sweet Jardim, um trabalho extremamente delicado. A mocinha foi uma das belas novidades do ano ao lado de Rodrigo Campos, com seu urbaníssimo e afiado São Mateus não é um Lugar Assim tão Longe. Entre as mulheres, a veterana Ná Ozzetti se fez presente com uma homenagem prá lá de caprichada a Carmem Miranda. Contudo, quem conquistou mais fortemente meu coração foi mesmo os Pullovers, autores de um CD de rock inspiradíssimo e Rômulo Fróes(foto), que com seu No Chão sem o Chão, fez um discaço, unindo tradição e modernidade, uma obra que precisa ser revisitada sempre para ser melhor compreendida. A banda e o compositor são paulistas, assim como a maioria dos que compõem essa lista. Coincidência? Talvez não. Talvez sejam os músicos de São Paulo rompendo de vez a capsula de criatividade no qual estavam envolvidos e jogando pro mundo sua cultura catalisadora. Com tudo o que se viu, acho que em 2010, no território verde e amarelo, temos tudo, em se tratando de música, para se dar muito bem. Veja a lista e comente:

1.- Rômulo FróesNo Chão sem o Chão – O disco de MPB mais surpreendente do ano. Eloquente, o paulistano Fróes moderniza seu som e fabrica “transambas” e “transrocks”, criando uma obra madura e de alto nível.

2.- João BoscoNão vou pro Céu Mas já não Vivo no ChãoBosco volta com extrema inspiração à parceria com Aldir Blanc. E quem ganha somos nós com essa obra maiúscula e tão prenhe de elegância e sensibilidade que chega a emocionar. Irrepreensível.

3.- PulloversTudo o que eu sempre Sonhei - A banda paulistana, muito cultuada nas internas, mudou, evoluiu e manteve apenas em sua formação, o cérebro, poeta e vocalista do grupo Luiz Venâncio. Cantando em português, afiou o verbo revelando uma urbanidade aterradora.

4.- Ronei Jorge e os Ladrões de BicicletaFrascos, Comprimidos, Compressas – O amor é a tônica de um álbum provocador, autoral, que marca o retorno desses baianos que não abrem mão da inventividade. Bela volta.

5.- NumismataChorume - A bem definida opção estética, que mistura pesquisa e experimentos, aparece agora vestida de gala, marcando um grande álbum no qual produção esmerada e refinamento andam de mãos dadas.

6.- CéuVagarosa - Um disco corajoso e bem arquitetado. Céu confirma sua personalidade marcante e antenas ligadas com o que é feito de mais interessante aqui e mundo afora, presenteando o ouvinte com um disco climático e moderno.

7.- TiêSweet Jardim - O disco é uma surpreendente lição de simplicidade e talento. Com ecos de folk, apesar da cantora negar essa tendência, Tiê mergulha em letras confessionais com melodias suaves e despretensiosas.

8.- Cidadão Instigado - Uhuuu - O bom e velho Catatau toca mais uma vez o foda-se para a caretice. Fala aqui para o resto da humanidade “eu sou eu, nicuri é o diabo”, como diria Raul, ou numa tradução mais jovem guarda, "que tudo mais vá pro inferno”.

9.- Rodrigo CamposSão Mateus não é um Lugar Assim tão Longe – O disco é uma declaração de amor à vida feita com delicadeza e talento por um paulistano cheio de poesia e talento. Seja bem vindo, Rodrigo, ao mundo dos bons.

10.- Ná Ozzetti Balangandãs – Uma das mais afinadas cantoras brasileiras faz a melhor homenagem do ano a Carmem Miranda, no centenário de seu nascimento. Balangandãs honra, com sobras, a inesquecível pequena notável. Discaço.

Taí o clip de "Para Fazer Sucesso", que faz parte de No Chão sem o Chão de Rômulo Fróes: