sábado, 29 de agosto de 2009

Retrô inspirado

Vem do Alaska a banda que produziu um dos lançamentos fonográficos do ano mais bacanas que ouvi até agora. O nome da banda de indie rock é um tanto esquisito, até mesmo surreal: Portugal. The Man (esse ponto no meio faz parte da esquisitice). O quarteto norte-americano que veio daquela gélida região faz um som terno, aconchegante, com textura próxima do pop e alma retrô. Essa é a boa liga de The Satanic Satanist (2009), - eles realmente parecem gostar de nomes bobos – quarto e alentador trabalho do grupo.

Nunca tinha ouvido falar de Portugal. The Man. Quando escutei o álbum mais recente da turma, me interessei em conhecer melhor a obra de John Gourley(vocalista), Zach Carothers (guitarrista), Jason Sechrist (baterista) e Wes Hubbard (tecladista). Os fundadores da banda vieram de um grupo de grupo de post-hardcore do Alaska chamado Anathomy of a Ghost. Essa origem parecem ter influenciado os dois primeiros discos da galera Waiter: “Your Vultures”(2006) e Church Mouth(2007), nos quais a carga de experimentalismo que fez a crítica compará-los aos loucos do The Mars Volta. Irregulares, esses dois CDs revelavam um quarteto em busca de um caminho próprio.

O terceiro álbum do grupo, Censored Colors, com instrumentos de sopro e corda, como trombone e violino, colocou Gourley e companhia (olha os caras bem na foto ao lado) em um novo patamar. Qualitativamente acima, é bom que se diga, apesar de todo o ecletismo proposto pelo bom disco. Com The Satanic Satanist, Portugal. The Man parece ter se cansado de suas viagens experimentais e mergulhado com fome no passado. Mais orgânico, esse trabalho soa deliciosamente retrô, com suas referências ao rock e soul com a cara dos anos 60 e 70. E a coisa funciona melhor ainda graças ao sotaque pop emprestado às composições.

Difícil não ouvir ecos dos anos 70, por exemplo, em “People Say”, que abre o disco e a primeira música do CD a se espalhar pela rede. Das melhores do disco, a alegre canção tem guitarra setentista e refrão matador. A também bacana “Guns and Dogs” segue a mesma toada, com uma melodia cheia de graça. Reparem, lá pelo fim da música, no piano suave contrastando com a guitarra mais animal. Mais pop e viciante, a banda acerta na mão com duas outras belas criações, as garageiras “Do You” e “Lovers in Love”, na linha do rock urgente e enérgico do Arctic Monkey, mas ainda com um pezinho no passado, ainda que nos detalhes. É só ouvir com cuidado para perceber.

O lado soul do banda aparece com mais evidência em músicas como a ótima “The Home” e a intensa e carregada “Mornings”, que fecha muito bem o álbum. Inteligentemente, Portugal. The Man deixou as baladas para o fim do disco. A galera mostra-se também competente quando desacelera. Além de “Mornings”, o pessoal do Alaska produziu outra excelente e tocante composição com título auto-explicativo, “Let You Down”. O piano marcado e repetitivo ajuda no clima de melancolia, reforçado pela voz doída de Gourley. Para noites à base de vinho e boa companhia.

Não sei se Portugal. The Man acaba aqui, com esse disco, sua busca por uma sonoridade que esses norte-americanos possam chamar de sua. Mas, o fato é que encontraram em The Satanic Satanist um caminho consistente e, de quebra ainda, afinaram a criação, com melodias inspiradas e de muito bom gosto. Se eles continuarem nesse rumo, os ouvintes só têm a agradecer. Eu do meu lado só espero, pacientemente, que o trem se mantenha nesses trilhos. Assim sendo, estarei numa estação qualquer para pegá-lo.

Cotação: 4

Embarque nessa:

http://www.mediafire.com/download.php?zg210tmwzgd