quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Depois do chá

Resisti com todas as minhas forças em escrever sobre o último trabalho do Arctic Monkeys, o bem produzido Humbug. Até porque a banda já é bem conhecida e, com certeza, tem espaço garantido na mídia. E, pra mim, blogs que falam de música são como organismos alternativos que servem para abrir flancos pros grupos que não conquistaram ainda seu lugar ao sol. Mas, fui fraco, admito. De vez em quando caio na tentação de tecer comentários, fazer resenhas, principalmente quando sou fã da galera. E é esse o caso.

Humbug é o terceiro trabalho do Arctic Monkeys, aquela banda britânica que tornou-se notícia por ter virado um fenômeno da internet. Os músicos caíram, com todo mérito, nas graças dos internautas com milhões de acessos, levando uma gravadora a bancar o bacana Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006). Consistente, o grupo amparou-se em riffs poderosos de baixo (Andy Nicholson) e guitarra (Jamie Cook), numa bateria vigorosa(Matt Helders) e nos inspirados canções e vocais de Alex Turner para conquistar crítica e público. O talento da moçada confirmou-se no irretocável Favourite Worst Nightmare(2007), um álbum afiado e repleto de hits instantâneos.

Dois anos depois veio este Humbug que traz elementos que podem causar cissões entre os fãs. O som dos ingleses está mais sereno, menos ensandecido, mais elaborado e “soturno”, como apontaram vários blogueiros de plantão. É como se Turner e cia tivessem tomado um bom chá de erva cidreira, um calmante natural. E é essa desaceleração da levada, antes mais juvenil e urgente, que pode desagradar e dividir a opinião dos apaixonados pela banda. Chamaram a mudança de “maturidade”. Prefiro chamar de evolução e experimentação.

O que se ouve é um Arctic Monkeys concentrado em fazer um som mais denso e técnico. Por trás de Humbug há a produção de James Ford, do projeto eletrônico Simian Mobile Disco, e Josh Homme do visceral Queens of the Stone Age. Os dois, cada um do seu jeito, encorparam o som da galera. De um lado, Ford, antigo colaborador, manteve o apelo pop, mais leve e radiofônico do grupo. Do outro, Homme influenciou na gestação de músicas mais viajandonas, experimental sem perder a medidado palatável, e com cordas mais pesadas, na linha stoner rock, a praia onde o cara surfa bem.

A fronteira entre a parceria de Ford e Homme com o Arctic Monkeys muitas vezes sê confundem, o que faz a diferença em Humbug. Músicas mais cerebrais e menos desacelaradas como as boas “My Propeller”, com o usual riff de baixo e guitarra em conversa afinada com a bateria marcial, e “Fire and the Thud”, que começa sensual, com um coro climático, e se desenvolve lenta, para desaguar num cortante e pesado solo de guitarra, mostram que os garotos da banda querem experimentar sonoridades novas. Querem fazer um discurso musical mais adulto, com referências de um rock psicodélico, com raízes no passado, pero sem perder, lógico, a identidade.

É interessante ver como há uma tendência do grupo em fazer músicas com mudanças de andamento. Não há uma linearidade clara, como se viu nos dois discos anteriores. São os casos da já citada “Fire and the Thud” e de “Dance Little Liar”, lisérgica no início, lembrando as trilhas sonoras dos westerns spaghetti e surpreendente no final, com a entrada da guitarra nervosa. E falar em urgência, quem quiser matar a saudade do velho Arctic Monkeys pode pular direto para “Pretty Visitors”, pedreira boa para se dançar. Pop do mesmo jeito é a empolgante “Crying Lightning”, a cereja do bolo, não à toa a escolhida para música de trabalho.

O que achei, por fim e sem mais delongas, de Humbug? É um grande álbum. Eficiente em sua pretensão de experimentar novos rumos, bem tocado e produzido, mas sem a coesão de Favourite Worst Nightmare, ainda o meu favorito. Ainda assim, altamente recomendável.

Cotação: 4

Vá enquanto é tempo:

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