sexta-feira, 17 de julho de 2009

Pra cima e avante

Uma música moleca teima em se repetir, incansável, no meu tocadisco. Um reggaezinho moderno e malemolente, bem defendido pela voz roufenha de uma das mais talentosas cantoras brasileiras da novíssima geração. O nome da composição é “Cangote”. A moça cantadeira tem alcunha pueril, mas produz um som encorpado, desencanado: Céu. Acaba de ser lançado Vagarosa(2009), o segundo e esperado CD da bela, depois de um hiato de quatro anos de lançamento do debut, Céu (2005).

O que me agrada em Céu é essa vontade da cantora e compositora, como prenuncia o seu nome, de procurar o ilimitado, de não se acomodar em praias calmas. Depois do superelogiado álbum que a apresentou ao mundo, a artista retorna mais amadurecida, disposta a buscar uma batida própria, contemporânea. E é isso que salta depois da primeira audição de Vagarosa: um eco de modernidade que transparece em praticamente todo o trabalho.

A contemporaneidade imanente no disco está nas melodias personalistas, todas compostas por Céu com uma ou outra parceira, prenhes de uma aura new hippie (a natureza é personagem ativa) mas travestidas de uma linguagem atual, e, principalmente, nos arranjos. Toques de eletrônica misturam-se ao reggae, como na já citada “Cangote”, um verdadeiro achado, e ao psicodelismo em “Nascente”, melodicamente uma das mais fracas do CD.

Os beats modernos ajudam a dar volume à “Comadi”, uma boa canção que se utiliza de uma levada jazzística da guitarra e bateria e de metais precisos para falar de uma mulher forte, uma “ponta de lança que às vezes se amua com tamanha herança”. A artista mistura numa mesma música, com charme e eficiência, imagens antigas e batidas modernas, originando um caldo grosso e instigante. Caso também de “Rosa Menina Rosa”, uma das primeiras músicas gravadas por Jorge Ben, que ganha aqui uma versão lenta e hipnótica, com a ajuda dos Los Sebozos Postizos.

A participação dos Sebozos é bastante sintomática da atual fase de Céu. A banda, que conta com integrantes da Nação Zumbi, como o baterista Pupillo e o baixista Dengue, empresta à música uma sonoridade que tem como base a música afro-latina, o dub, e a black music de ponta. Os dois participam de algumas faixas de Vagarosa e fazem parte, no Nação, de um grupo de músicos brasileiros que buscam referências musicais diversas para criar um som novo, autoral. Céu também é assim, como outros convudados do disco a exemplo de Fernando Catatau e Curumim, dois outros expoentes da moderna música brasileira .

A fusão rítmica potencializa em muito o trabalho de Céu. Em “Bubuia”, uma das mais radiofônicas do álbum, elementos musicais árabes encontram um baixo e bateria cadenciados numa criação de suíngue esperto. Na bem legal e inventiva “Papa”, tango e dub, fazem um pas-de-deux irressistível. A latinidade de “Cordão da Insônia” chama, por sua vez, para dançar.

Em raros momentos, o disco derrapa ou cai numa certa acomodação. O momento cansei de ser moderna está no sambinha malandro “Vira Lata”, com participação especial do grande Luiz Melodia, cuja voz se casa à perfeição com a da dona do terreiro, canção que finca os pés na tradição, mas conquista o ouvinte com seu jeitão clássico e requintado. Dispensável: a estranheza sonora de “Ponteiro”, com seu teclado demente e ritmo impreciso. No mais, é um disco corajoso e bem arquitetado. É Céu confirmando sua personalidade marcante e antenas ligadas com o que é feito de mais interessante aqui e mundo afora.

Cotação: 4

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