domingo, 17 de maio de 2009

Feijoada explosiva

Lembra Raimundos, da boa fase, e também Chico Science e um pouco os alucinados Móveis Coloniais de Acajú. Lembra, na verdade, aqueles grupos que, sem vergonha, liquefazem as influências hardcore num emaranhado musical que, ainda assim, trazem um carimbo próprio. Gilbertos Come Bacon vem de Planaltina, usando uma velha fórmula, para mexer, em seu disco de estréia, com o amuado rock candango.

Primeiro lançamento do ano da gravadora brasiliense, GRV Discos, Gilbertos Come Bacon(2009) veio ao mundo porque a banda homônima ganhou o I Festival Universitário de Música de Brasília. Foi o prêmio. Para o grupo e para os fãs de um rock mais veloz e, aqui, ponto pra lá de positivo, com tutano. Os sete meninos e a menina, uma baixista, da banda fazem um som urgente, com letras que investem no discurso social com o verbo solto, que beira em certo momento e sem pudor a escatologia.

Esse desapego ao hardcore tradicional é francamente assumido pelo grupo. Eles batizam sua música de “rabicóre”, que pode ser visto como uma mistura orgânica de guitarras pesadas e aceleradas com uma instrumentação sem amarras que têm a percussão e a levada rap – no diálogo dos vocalistas Eduardo e João – como elementos mais marcantes. Por isso é som para quem não está em dieta, com muito tempero. Uma feijoada explosiva.

No mar de influências em que a banda mergulha, é possível ouvir um Raimundos com neurônios na bacana “Minha Casa”, cuja letra faz uma comparação quase concretista do corpo humano com a casa. O mix radical de Chico Science e Nação Zumbi é visível em “Sorriso de Plástico”, com sua percussão esperta bem casada com o rap. O skacore que municia o Móveis se faz presente na ganchuda “Piolho”, que tem participação especial e bem humorada do imprevisível Tom Zé.

Gilbertos Come Bacon não tem a pretensão de inovar. A banda faz o que os grupos citados anteriormente exercitaram, mas com uma liberdade que leva a intervenções sonoras diferenciadas e produz um som que não soa como cópia. Mérito também das letras politizadas que escapam do panfletarismo, como em “Adulteraram”, que fala do mau uso do poder ou na bem sacada "Gilbertos", sobre um cara que para ser “considerado” tenta parecer com um gringo. Um boa estréia de uma banda que merece ser acompanhada com interesse.

Cotação: 3

Fico devendo o link para o disco, mas como aperitivo lambuze-se com esse torresminho:

http://www.myspace.com/gilbertoscomebacon

Ou para mais informação, vá em:

www.grv.art.br

Rock demolidor

Esse tal de rock and roll tem umas crias que enchem a gente de alegria. Desde que saiu do Pulp, banda que se tornou um dos ícones do britpop ao lado de Oasis e Blur, Jarvis Cocker vinha engrenando um pacto efetivo com a história. E fazer história nesse terreno musical com tantos pretendentes a ídolos e gênios, não é lá, convenhamos, muito fácil. E Jarvis se destaca no meio desse grosso caldo roqueiro com um dos discos mais instigantes e demolidores que ouvi este ano.

Further Complications(2009) vai um pouco na contramão do bom Jarvis(2006), o primeiro solo do artista britânico. É mais sujo e pesado, uma provável contribuição do produtor Steve Albini, de alma punk, que já colocou o dedo em álbuns do Nirvana e Pixies, só para citar dois gigantes. É mais coeso do que seu antecessor também, o que mostra uma bem vinda linha ascendente desse músico inquieto, que se distancia consistentemente da banda que o projetou.

O que mais agrada em Further Complications são os riffs e refrões pegadores, distribuídos generosamente por todo o CD, que tem no rock básico e direto a sua maior virtude. É isso mesmo, viúvos e viúvas do Pulp. É possível ver ecos a la Kinks em músicas como “Ângela” e de surf music, presentes na instrumental "Pilchard", onde a voz de Jarvis é apenas onomatopaica, e na balouçante “Homewecker”.

O vigor do rock, no que ele tem de mais direto, está ainda na música que deu nome ao CD, com baixo, guitarra e baterias matadores ancorando a voz mais encorpada(mais do que o normal, diga-se de passagem), do artista. E em “Caucasian Blues”, que de blues não tem nada. Rockões desbragados e com riffs arrepiantes, desses que ficam rodando ébrios em nossa cabeça por um tempo.

Mas, se você quiser um Jarvis mais calminho, escute com prazer as lindas “Leftlovers”, com uma levada que mistura a sonoridade gutural de Leonard Cohen e Lou Reed, e, principalmente, "I Never Said I Was Deep", cool e arrebatadora. Taí um discaço. Bom pra viagem, pra despertar da pasmaceira e até pra dançar coladinho. Dez de luxo.

Cotação: 5

Linke-se quem puder:

http://sharebee.com/9540f5d3

ou:

http://www.megaupload.com/?d=GV2Q6E6S