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Não lembro de ter lido em algum lugar. Mas, o fato é que esse carioca da gema chamado Pedro Luís é filho de santo forte. E se seu amor pela batucada, evidenciado desde o início de sua carreira pelo feliz acompanhamento do combo A Parede – percursionistas e músicos de mão cheia – é um sinal de que ele sempre teve um pezinho na África, com o lançamento do bom álbum Ponto Enredo(2008), o artista finca de vez os dois pés no inspirador continente africano.
Ponto, para quem não sabe, dentro da cultura iorubá é o batuque hipnótico presente nos rituais de terreiros de macumba. Ponto Enredo, o álbum, vai na raiz ancestral dos tambores africanos e toma um banho radical. Vira um disco conceitual nessa busca da batida perfeita, onde mistura as típicas batucadas tribais, os pontos, com o samba.O resultado dessa mistura, talvez uma procura pelos pontos de intersecção do ponto de macumba e do samba obviamente sem qualquer intenção antropológica do artista, é interessante e revela um Pedro Luís, um de nossos mais talentosos compositores, rendido despudoradamente aos velhos tambores de guerra. Uma rendição, contudo, que não perde de vista a carga de contemporaneidade e a miscigenação de influências bem características dos músicos de sua geração.E desde o início, na suingada “Santo Samba”, Pedro Luís e a Parede já mandam o seu recado e atacam com um batuque vibrante. “Do jeito que as coisas andam. Os santos estão pirando. Não dão conta da demanda”, alertam. Mas, nem por isso, deixam a felicidade de lado. “O samba é um santo remédio para quem quer viver”, remendam depois. A música chama para a festa misturando samba e, de uma forma mais suave, ponto de macumba.
Mas, ponto forte mesmo vem a seguir com a música que dá nome ao disco, “Ponto Enredo”. O uso da percussão e os elementos seminais do candomblé, como trovão, água de cheiro, ervas remetem ao terreiro, mas a melodia e uma guitarra sensual traz modernidade e beleza à canção. A iconografia iorubá está também em “Mandingo”, um outro “ponto samba” envolvente e que mostra um Pedro Luís completamente senhor de si em sua arte de criar composições competentes.
Competência inclusive para tocar no rádio. “Ela tem a beleza que eu Nunca Sonhei” é samba de roda, de raiz, um partido cantado junto com Zeca Pagodinho prontinho para virar sucesso. E também arriscar um rock mais à esquerda, como na ótima “Tem Juízo Mas não Usa”.
E esse é Pedro Luís, quatro discos depois da estréia e com pelo menos uma obra prima, Astronaura Tupy(1997), livre para mergulhar radicalmente na sua paixão pelos tambores mas sem medo de ser feliz em composições populares. Ponto Enredo é bola dentro, uma goleada de nossa brasilidade.
Vá de batucada:
http://w13.easy-share.com/1701795988.html
ou:
http://rapidshare.com/files/149759764/UQT2008_Pedro_Luis_e_A_Parede_-_Ponto_Enredo.rarCotação: 4