quinta-feira, 22 de maio de 2008

Energético global

Nos primeiros anos deste século quatro das bandas que eu mais escutava eram Asian Dub Foundation, Orishas, Rage Against the Machine e Nação Zumbi. As três primeiras vieram para animar nosso indigente mercado, refém das gravadoras que, na maioria das vezes, apostavam em agrupamentos medíocres e mais comerciais. Não era o caso, obviamente daqueles grupos que tinham em comum o mix de estilos, com um pé fincado na tradição e o outro na revolução. Globalização musical de responsa que não saía do meu aparelho.

Um deles, o ADF, acaba de lançar Punkara(2008). Nada de muito diferente do que o combo já fez até agora, mas ainda assim um álbum acima da média e com o vigor típico daquela galera. Estão lá as letras politizadas, os instrumentos indianos que caracterizam bem o som, como cítaras e flautas, a influência do punk, do ragga e da eletrônica. Tudo muito bem dosado, mas sem a inspiração dos dois, para mim, melhores trabalhos da banda: Rafi’s Revenge(1998) e Community Music(2000).

Apesar disso há o brilho sonoro do bom e velho ADF em composições como “Superpower”, com a clássica forma de cantar indiano, que lembra um lamento, abrindo a música, na mais pesada “Target Practice”, com sua guitarra raivosa, e, principalmente, na irresistível e dançante “Burning Fence”, com o ragga comendo solto, e no quase reggae “Ease up Caesar”, com sua levada mais pop e refrescante.

Ouça com atenção ainda “S.O.C.A”, um bacanudo instrumental que, num certo momento tem uma leve semelhança com a guitarrada paraense e o carimbó, num desses crossovers que este mundo, vasto mundo, deliciosamente permite. Sou suspeito pra falar de Asian Dub Foundation, mas como fã de carteirinha, aprovei o disco. Esse sound system é f...

Aí Krebão, vê o que você, fã confesso que nem eu daquela moçada, acha:

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ou:

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Cotação: 3

Camille Camille

Minha amiga Leilane, que tem a elogiável sede de descobertas musicais, já havia me alertado sobre uma cantora francesa chamada Camille. Me deu inclusive uns exemplares de composições da moça para que eu ouvisse. E me surpreendi com a qualidade do que foi apresentado aos meus também insaciáveis ouvidos. Muito boa essa parisiense, pensei cá com meus botões. Pois, a impressão positiva se confirmou no complexo Music Hole(2008), terceiro de inéditas dessa irrequieta artista.

Camille é compositora da maioria das músicas que canta. Destemida criadora. Em Music Hole, o que se vê é música de vanguarda, sem os excessos e chatices que costumam delinear este segmento. Ousada e corajosa, a bela francesinha segue o rastro deixado pelo anterior Le Fil(2005). Com ela, pensamos: o que pode a voz humana?

Music Hole é um playground sonoro, onde Camille experimenta com muito talento e sensibilidade a extensão de sua voz, muitas vezes sobrepostas, e com a colaboração de coros afinados. Os ousados arranjos vocais são privilegiados a ponto de alguns vezes você não perceber os instrumentos, quase sempre minimalistas e coadjuvantes nessa história toda.

Não é um disco fácil este, mas uma audição mais cuidadosa fará com que o ouvinte perceba toda a delícia do que é proposto pela artista, como um, desculpem o lugar comum, bom vinho que é degustado com vagar e muito prazer. Destaque para “Gospel with no Lords” na qual mistura sua língua pátria com o inglês, que aliás é a base do álbum; “Cats and Dogs”, onde ludicamente permeia uma bela melodia com sons imitando a bicharada, experimentalismo que lembra, em alguns momentos, a grande Kate Bush; e a linda “The Monk”, sem letra e que mostra todo o alcance vocal da cantora. Por tudo isso, só tenho que agradecer: valeu pela dica, queridíssima Leilane.

P.S.: Reparem Também no samba torto que é “Canards Sauvages”, que conta com a participação especial dos brasileiros do Barbatuques, que fazem som com batidas no próprio corpo.

Experimente e não desista na primeira audição:

http://rapidshare.com/files/114400947/Camille_-_Music_Hole__2008_.rar

Cotação: 4