segunda-feira, 30 de junho de 2008

Pérola desconhecida

A música chamou a atenção de meu colega Makoto. Ele é meu companheiro de jornadas sonoras no trabalho. Involuntário, diga-se de passagem, mas sempre atento. E quase sempre discreto sobre o que ouço. Quase sempre também omisso nessas horas. Emite raríssimas opiniões. Mas, dessa vez, trinta minutos depois da música volutear pela sala, ele se pronunciou lacônico: “Muito doido esse som”.

Esse som “muito doido” era de um cara chamado John Matthias, um amigo britânico (acredito que essa seja a sua nacionalidade) de Thom Yorke, cabeça da banda Radiohead, com quem tocou em The Bends(1995). As 12 canções de Stories from the Watercooler(2008), contudo, nem são assim tão “doidas” como definiu meu caro Makoto. Mas que o cara sai um pouco do lugar comum, isso ninguém pode negar. Mas, não se assuste, isso nada tem a ver com a praia do experimentalismo.

Matthias é um representante do folk que não se apega exclusivamente ao violão acústico. Em seu terceiro álbum, há exemplos legítimos do que há de mais tradicional nessa escola, como na tocante “Open”, com direito inclusive a uma cândida flauta, e na bela e serena “It's Not”. Mas, onde o músico, de boa voz grave, impressiona mesmo é quando insere suaves programações eletrônicas que encorpam canções já melodicamente parrudas, como são os casos de “Police Car”, com um arranjo de instrumentos incidentais enraizado no contraponto e, principalmente, em “Blind Lead the Blinder”.

A mistura equilibrada se faz ainda presente em outros grandes achados, como “King of a Small Town”, cujo andamento lembra “Clint Eastwood”, do Gorillaz, um tom mais abaixo, ou na roqueira e raçuda “Spinnaker”. Depois de três discos lançados lá fora no mercado, com esse grande Stories from the Watercooler, tá na hora de Matthias aparecer definitivamente para o mundo.

Veja se você concorda comigo:


ou

também:

por fim:

Cotação: 4

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Trilha sonora empolgante

É interessante a estratégia dos músicos quando querem praticar sonoridades diferentes daquela que sua banda oficial costuma apresentar. E ainda de quebra tiram umas férias de seus companheiros de estrada. São os chamados “projetos paralelos”. Os resultados, porém, quase sempre não são tão interessantes. Outras vezes, o produto é redondinho e instigante. Caso desse The Last Shadow Puppets e seu álbum The Age of The Understatement(2008).

Por trás do The Last Shadow Puppets estão Alex Turner, vocalista e compositor do Artic Monkeys, o amigo Miles Kayne, do The Rascals, e ainda James Ford, do Simian Mobile Disco, que assume a bateria, e Owen Pallet, do Arcade Fire, autor dos belos arranjos. Essa turma boa e talentosa partiu para um trabalho requintado, cheio de referências dos anos 60 e de trilhas sonoras, com muita orquestração e criatividade.

Pois é, quem está acostumado a Artic Monkeys vai ter um travinho ao ouvir este The Age of The Understatement. Mas, se permita mergulhar no universo proposto no disco, que passa inclusive pela grandiloqüência das trilhas assinadas por Ennio Morriconi para o gênero western spaghetti, como na ótima música que dá título ao trabalho e em “Only The Truth” com sua orquestração carregada. E por falar em filme, “In my Room” parece ter saúdo direto dos filmes de 007, daqueles que tinham ainda Sean Connery como astro principal.

Aliás, os violinos marcantes em perfeita harmonia com as guitarras e bateria marcial são um show a parte nesse disco com arranjos inteligentes e estética old fashioned. Em alguns momentos lembram até The High Llamas, como nas sofisticadas “Black Plant” e “Meeting Place”. Mais anos 60 impossível. Vale a pena ver esse filme. Sério candidato a um dos melhores do ano.

Para sentir na pele, vá:

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Glam comedido

Não sei por que cargas d’água passei batido pela notícia de que Brett Anderson havia lançado em março do ano passado seu primeiro trabalho solo. Não que o fato merecesse o toque de trombetas e rufar de tambores. Mas, para quem, como eu, era fã ardoroso dos britânicos do Suede, tinha que ter tido conhecimento do fato. Comi mosca. Por isso também resolvi resgatar Brett Anderson(2007) do turbilhão do esquecimento.

O disco do vocalista do Suede não tem aquela tintura glam e de exagero que fez deste grupo adorado na década 90 a ponto de ter o trabalho comparado ao do camaleônico David Bowie. Este solo de Anderson é mais calminho, beirando a melancolia. Está mais para, em alguns momentos, os épicos que Morrissey tentou construir depois que saiu do Smiths. É o caso por exemplo da linda “Love is Dead”, que começa com cordas em ebulição e segue com o exercício vocal emotivo do cantor.

Essa tendência ao teatral, ao grandioso pode ser visto também noutra bela canção, “The More We Possess the Less We Own of Ourselves”, com abertura que mais parece ter saído de uma ópera de Puccini. É o novo “glam” de Anderson. Tudo no disco vai no vácuo do comedido, da voz do cantor, antes mais desbragada, até as canções suaves e não tão empolgantes como “One Lazy Morning” e “Intimacy”. Ecos do Suede podem ser ouvidos na mais rocker “Dust and Rain”, com sua guitarra e andamento mais nervosos.

Mas, o belo timbre de Anderson e pérolas como a impactante “To the Winter”, uma balada que já considero clássica e quase me faz chorar, tornam esse álbum uma obra para se ter em qualquer coleção.

Vá sem medo:

http://www.4shared.com/file/46408098/375ce037/2007.html

Cotação: 4

terça-feira, 24 de junho de 2008

Tempero do passado

O caldeirão musical norte-americano que gerou, na primeira metade do século passado, ritmos como o foxtrot, charleston, o ragtime e o jazz, com todas as intersecções possíveis, vez em quando ecoa na música dos novos. Esse tempero de época pode ser sentido, por exemplo, no som que faz o bem intencionado grupo The Hush Sound, que lançou recentemente o animado e interessante Goodbye Blues(2008).

O disco foi editado pela mesma gravadora que apadrinhou o Panic! at the Disco e o Fall Out Boy, o que faz muita gente pensar que o The Hush Sound soe parecido com aquelas duas bandas fraquinhas que fizeram sucesso em todo o planeta. Mas, não é bem por aí. Ainda bem. Goodbye Blues tem mais consistência e referências culturais que credenciam o quarteto de Chicago, um dos melhores palcos da música negra dos Estados Unidos, a ser ouvido com atenção.

E não é só porque flerta com uma sonoridade com tintura jazzy, como as ótimas “Honey” e “Medicine Man”, que abrem magistralmente o disco, depois da melancólica “Intro”, todas abusando de um piano pop e que descamba em certos momentos para o vintage, que essa galera se mostra uma boa promessa. É porque, também, dosam essa influência com um indie-pop mais descarado, como acontece com as boas “As You Cry” e “Hospital Bed Crawl”.

A seu favor, The Hush Sound tem principalmente a voz de Greta Salpeter, que inclusive comanda garbosamente o notável piano. De registro agudo e muito afinada, essa menina é a alma da banda. Sinta a intensidade da cantora em “Break the Sky” e tire a prova dos nove. Infelizmente, o álbum peca pela pretensão. Salpeter disse que cada música ali era para ser vista como “uma pequena obra de arte”. Bobagem. Eles podem até ter amadurecido na terceira cria, como já foi notado, mas a sensação de cansaço criativo em algumas canções e a forçação de barra em outras, como na instrumental “Six”, não os coloca , ainda, no patamar de grandes artistas.

De qualquer forma, confira:

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Se não deu, tente:

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Cotação: 3

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Em busca da inspiração perdida

Gilberto Gil estava com saudade de gravar. Também pudera. O último trabalho autoral foi o robusto Quanta, de 1997. E de lá para cá, depois de assumir o Ministério da Cultura, que lhe propiciou um travo como compositor, esperou a inspiração musical vir. Ela veio devagar e resultou em Banda Larga Cordel(2008), um álbum que traz o velho Gil com suas preocupações filosóficas e o movimento sonoro globalizante.

O lançamento de um disco de inéditas de Gilberto Gil é algo sempre a comemorar. Afinal, o bom baiano, o meu preferido entre os novos bárbaros que na década de 60 para cá deram uma boa mexida na MPB, tem sempre algo a dizer. E seus trabalhos são sempre acima da média. É o caso desse Banda Larga Cordel que, mesmo menos luminoso que o disco anterior, ainda tem boas idéias, melodias bacanas e brilho próprio.

O disco traz 16 canções em mais de uma hora de música. E temos que nos render em vários momentos ao gênio rítmico e poético do artista. Mesmo em músicas menos pretensiosas, como “Despedida de Solteira”, um forró suave e provocativo, o som seduz e encanta. O artista tenta engatar de novo sua tendência a filosofar que, quando dá certo, nos prende atenção, caso da linda “Não Tenho Medo da Morte” e embarca ainda em sensíveis declarações de amor, como a que faz a mulher Flora, na sensual “A Faca e o Queijo”, da mesma linhagem da clássica “A Linha e o Linho”.

Há que se prestar atenção também nas letras de Gil, como na mais dançante “Banda Larga Cordel”, onde brinca com as coisas da informática e o desejo do mundo inteiro de surfar nessa onda, como revela a inventiva poesia: “Diabo do menino agora quer/Um ipod e um computador novinho/O certo é que o sertão quer navegar/No micro do menino internetinho”.

Mas, o ministro se perde em composições não tão inspiradas, apesar da boa intenção, como “Canô”, em que homenageia os 100 anos da mãe de Caetano Veloso ou no forró “Não Grude, não”. A compensação vem com a bela versão de “Formosa”, de Vinícius e Baden Powell, de arranjo delicado, e em sambas com grandes harmonias como “Samba de Los Angeles” e “Amor de Carnaval”.

Por tudo isso e por ser Gil reanimado, vá lá:

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ou ainda:

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Cotação: 4

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Lo-fi surpreendente

A banda costuma ser freqüentemente comparada ao papa do indie experimental, o canônico Sonic Youth. Mas, não embarque nessa. Não é porque o guitarrista deste grupo, Thurston Moore, apadrinhou o trio Tall Firs que este tenha que soar parecido. Too Old To Die Young(2008), o segundo álbum da turma, não lembra a barulheira pós-punk dos mestres e nem mergulha na distorção. Estamos falando aqui do mais puro lo-fi.

Se tem algo que aproxima o Tall Firs do Sonic Youth é o experimentalismo. A banda criada pelos vocalistas e guitarristas Aaron Mullen e Dave Mies e pelo baterista Ryan Sawyer faz uma espécie de folk experimental, marcando pelo diálogo enviesado de cordas e baterias, como é possível perceber logo de cara com a interessante “So Messed Up” em que a guitarra dedilhada soa desencontrada da percurssão marcada.

A textura rica criada pela guitarra e violões é cama para uma bateria um pouco mais enérgica e encanta os ouvidos. E se engana quem acha que Too Old To Die Young é repetitivo. Ouça o disco com ouvido de arqueólogo, buscando a riqueza do detalhe nos arranjos bem trabalhados e recheado de surpresas. Casos da ótima “Good Intentions” em que um piano sutil chama a introspecção para ser estilhaçado no final por uma guitarra mais pesada, ou na linda “Secret & Lies”, onde a voz árida e quase sussurrante de Mullen encontra o par perfeito num dueto com Holly Miranda, da banda The Jealous Girlfriends.

O novo trabalho do Tall Firs, banda que tornou-se um dos grandes achados este ano para mim, é de difícil audição. É anti-pop e nada radiofônico, mas tem uma virtude rara na maioria das bandas: é consistente e mexe com os sentidos.

Experimente:

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Cotação: 4

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Na cola do Radiohead

Sempre resisti a comentar o lançamento de EPs. Talvez porque não façam parte de nosso cultura musical, apesar dos antigos vinis compactos(alguém lembra?) ainda boiarem em minha memória de infância. E também por esses produtos não serem considerados pelos seus autores como uma tacada oficial. Contudo, resolvi abrir uma exceção depois de ouvir Vodka Bear Matreshka(2008), do trio On Wave.

Corri atrás do EP depois de escutar na internet “Double Click”. A canção logo me chamou atenção pela pegada a la Radiohead, uma de minhas bandas preferidas. A composição tem o mesmo espírito das criações mais pops da banda inglesa presentes, por exemplo, no ótimo Hail to the Thief (2003). A seqüência de baixo e bateria hipnóticas, a voz desesperançada e eloqüente do vocalista russo(sim, a banda é daquele distante país!) Michael e a boa melodia credenciaram minha busca por outras crias dos cossacos.

O EP Vodka Bear Matreshka tem sete músicas. A primeira, chamada singelamente “Track” é apenas uma introdução, um maquiavélico esquenta para a ótima e já comentada “Double Click”. Na seqüência, a bacana “Solo” reforça que os russos aprenderam bem na cartilha de Radiohead, Muse e outras galeras que gostam de rock com melodias fortes, alma exposta e guitarras efusivas.

Soberba é o que se vê na boa “What Angel Seen”, com solo de cordas pungente e interpretação desesperada. “Matreshka” é uma vinhetinha sem-vergonha e dispensável, enquanto “Be My Killer” é a mais radiofônica delas e pesada, com suas guitarras sujas e distorcidas.

Pensei em cotar o disco com um 5 redondindo(bom pra c...), mas como não sou nenhuma Márcia de Windsor(alguém lembra desse personagem?), pisei o pé no freio. Mas, fiquem espertos com o que esses camaradas russos podem aprontar. Eles disponibilizaram o download gratuito do EP:

http://uploaded.to/?id=kpuvfi

Se não der, vá na página dos caras, onde o EP está à disposição:


Cotação: 4

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Celestial grandeza

No clip da música "Gobbledigook"(procure o filme no lado direito do blog) , um bando de homens e mulheres peladinhos da silva brincam serelepes no meio de uma floresta. Dançam ao som de uma bateria tribal, palmas e coro minimalista que se contrapõem a uma melodia quente e alegre. A sonoridade lembra tudo, menos a banda islandesa Sigur Rós, autora dessa composição estranha ao universo do cultuado grupo.

Aquela música é o primeiro single do disco Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust(2008). É também a sua primeira faixa, o que fez muita gente pensar que a banda, autora do belo clássico Ágætis Byrjun (1999), estaria dando uma guinada na carreira, partindo para um som mais pop e fácil. Ledo engano. A audição do restante do álbum mostra que a galera capitaneada por Jón þór Birgisson (vocal e guitarra) continua fazendo um rock experimental, numa seara entre o psicodelismo e o folk completamente etéreos.

O novo álbum, que tem uma grandeza próxima ao citado Ágætis Byrjun sem, contudo, superá-lo, investe em coros angelicais e na instrumentação e arranjos delicados tanto quanto complexos. Casos de “Inní Mér Syngur Vitleysingur” e “Ara Batur”, onde um piano suave é cama para melodias envolventes que terminam apoteóticas com a entrada de cordas e metais suntuosos.

E assim a banda vai viajando. Ora entre canções mais soturnas e melancólicas como a longa “Festival”, lentíssima, quase uma oração com seu órgão e voz bem casados, ora pesando menos a mão com músicas mais solares, como “Ilgresi”, uma grande melodia, uma das melhores do disco, com seu violão acústico e jeitão folk e a terna e celestial “Goddan Daginn”, que remete um pouco a leveza dos “fofos” escoceses Belle and Sebastian. Enfim, um disco difícil para muitos, mas excelente e extremamente respeitável.

Faça essa viagem:

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ou:

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Cotação: 5

terça-feira, 17 de junho de 2008

Caldeirão mágico

Quando a maioria ouve falar de uma banda vinda de Olinda e ainda com um nome pomposo como Orquestra Contemporânea, já pensa: lá vem frevo do brabo. E essa é a primeira surpresa que se tem depois da audição do primeiro disco lançado pelo combo reunido por Gilson Filho, ex-Bonsucesso Samba Clube. Ouve-se tudo, uma fusão espertíssima de ritmos, menos o tal do frevo.

Mas, quem está acostumado às boas invenções da música pernambucana não vai estranhar. A Orquestra Contemporânea de Olinda mostra no CD, lançado em 2008 e que traz o nome da banda, um som fortemente autoral, fincado em ritmos brasileiros do passado e na black music. Estão lá no caldeirão mágico, o afrobeat, funk, jazz, samba e até o brega, aquele brega que fez a cabeça de toda uma geração nordestina nos anos 70 do século passado.

A banda já adianta no melancólico samba “Ladeira” as influências de um período em que a música brasileira era mais presente em nossos dials: “Vou correndo atrás da vida/Vou levando na bagagem um gosto de coisa do passado”. Ponto para eles. Tiné e Maciel Salu, os dois vocalistas que comandam no palco os outros dez músicos do grupo, trazem na grande bagagem o passado com toques contemporâneos.

Nesse mix de passado e presente, é possível visualizar o futuro. Músicas como a brega “Brigitti” aponta, podem anotar isso, uma tendência. Antes, a ótima Cidadão Instigado, do cerense Catatau, já havia cantado a pedra sobre a potencialidade ainda mal explorada do brega. Mas, esse é só um detalhe no baú de boas composições apresentado pela banda.

Qualquer dúvida, cole no ritmo funkeado de “Tá Falado”, no reggae suave de “Saúde II” ou na ótima “Canto da Sereia”, resgatado do cancioneiro de Oswaldo Nunes, que começa com um ritmo amaxixado para cair na fervura dos naipes de metais. Aliás, os metais são a alma desse bom disco de música brasileira. Pra balançar, vá lá:

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ou

http://www.4shared.com/dir/6554549/73f92966/Orquestra_Contemporanea_de_Olinda.html

Cotação: 4

segunda-feira, 16 de junho de 2008

No caminho certo

Esse é mais um daqueles casos do teste do segundo disco. The Fratellis haviam lançado em 2006 Costello Music, álbum bem recebido pela crítica. Foram incensados e definidos como uma das grandes promessas do rock do Reino Unido. O blábláblá ajudou a criar aquele climão em torno do segundo trabalho do power trio formado pelos falsos irmãos, pelo menos no sobrenome, Jon Fratelli (guitarra e vocal) Barry Fratelli (baixo) e Mince Fratelli (bateria e backing).

Here We Stand(2008) tenta ampliar o público da banda, de forma instável, com seu rock básico. Diferente do álbum anterior, explicitamente cru e visceral, o segundo trabalho dos escoceses de Glascow é mais produzido e orgânico. As guitarras afiadas e a bateria pulsante dão as caras já na abertura, na bacana “My Friend John” e continua, chamando festa, com a inclusão de um piano nervoso e coro no estilo rockabilly de “A Heady Tale”.

Mais desacelerados, contudo mais consistentes, principalmente na marcação mais pesada e criativa da guitarra, os Fratellis presenteiam os ouvintes com boas composições, a exemplo da envolvente “Shameless” com sua pitada bluezeira, e a sedutora melodia de “Stragglers Moon”, que os aproxima da verve dos conterrâneos do Franz Ferdinand. Mas derrapam, porém, em bobagens, com a pouco inspirada “Mistress Mabel” e a dissimulada “Tell me a Lie”, entre outras.

A impressão que fica no final de tudo, 12 músicas depois, é que esses camaradas estão no caminho certo, precisando encontrar apenas o equilíbrio entre o talento de criar hits e a energia descontrolada, presentes no primeiro trabalho e o desejo de agradar o mundo inteiro, sensação deixada pelo segundo. Quer experimentar? Então vá em:

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sexta-feira, 13 de junho de 2008

Ela é quente mesmo

Ela começa a virar figurinha fácil nas passarelas de moda, já foi citada nas colunas de jornalistas “descolados” e já apareceu até num conhecido site da maior empresa de comunicação do país. A moça em questão é negra, turbinada, talentosa e atende pelo singular nome de Santi White, que é na verdade a voz e a força que está por trás de um grupo que mistura rock, punk, ragga e música eletrônica chamado Santogold.

Já tem uns meses que o Santogold circula pela internet como uma das boa novidades do segmento eletrônico no ano. Com o lançamento do primeiro álbum, que leva o nome da banda, confirma-se o nascimento de uma estrela. E, tenha certeza, o frisson em torno dela não é armação do mercado fonográfico. Santi White é realmente boa e carismática, com sua voz aguda e afinada, que encaixa perfeitamente em canções eletrônicas pop e eficientes, que tem tudo para fazer a alegria dos amantes das pistas.

Santogold(2008) é um dos álbuns mais quentes do ano. É música eletrônica sem perder de visto a energia roqueira, como na boa “Say Aha”, com pegada punk, uma das influências da artista, e na contagiante “You’ll Find a Way”. O bicho pega também no território do dub e reggae como nas matadoras “Shove It” e “Creator”, esta com loops alucinados e em diversas velocidades, no estilo “Créu”, mas, obviamente, com toda a criatividade que falta a este funk oco.

Mas, se você resistir ainda ao balanço contagiante de Santogold, tente ficar parado diante de “Unstoppable”, um dub hipnótico com refrão pra lá de lúdico, ou escutando “L.E.S. Artistes”, outro dos destaques desse bem engendrado e bacanudo trabalho.

Sinta o calor:

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Cotação: 5

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Ninando anjos

Do início do ano até este meado de junho de 2008 quando a Fleet Foxes lançou um primeiro balão de ensaio, os blogs e sites especializados em indie rock comentaram muito a respeito dessa banda de Seattle, a terra do grungie. A maioria tecia comentários elogiosos e criava expectativas para o disco completo prometido para esse meio de ano.

O burburinho surgiu depois que a turma lançou o cristalino EP Sun Giant(2008), num quadrante sonoro bem distante do barulhento e deseperado rock que levou, por exemplo, os conterrâneos do Nirvana e Mudhoney a marcarem época. No trabalho de apresentação, a molecada norte-americana nadava de braçadas num folk psicodélico e melancólico, que remetia a Van Morrison de Astral Weeks(1968) e às viagens mais experimentais dos Beach Boys.

O primeiro álbum de músicas inteiras, que leva o mesmo nome da banda, é uma continuação do EP. E com a mesma inspiração melódica que chamou a atenção da crítica. Abusando de corais afinadíssimos, Robin Pecknold (vocal e guitarra) e sua turma fazem pequenas canções de ninar para anjos, que eles próprios definem acertadamente como “barrocas”, caso das emocionantes “White Winter Hymnal”, com um arrepiante arranjo vocal, e na sessentista “Sun it Rises” e seu climático e onipresente violão acústico.

Impossível não voltar no tempo com essa formidável estréia do Fleet Foxes. A animada “Ragged Wood” poderia muito bem substituir “Let’s the Sunshine In”, na clássica cena do filme Hair em que a galera está na estrada em um conversível, cantando a citada música, a caminho do resgate de um amigo do exército à beira da ameaçadora viagem para a guerra do Vietnã.

Mas, não torçam o nariz. A música em questão aqui não cheira a naftalina. É apenas um revival, com cores modernas e muita personalidade, de um psicodelismo sem delírios e atolado até o pescoço no lirismo. Até os corações mais duros vão estremecer diante de pérolas como a épica “Your Protector” e a acalentadora “Meadowlarks”. Uma revelação e definitivamente um dos grandes álbuns lançados em 2008.

Cheque:

http://rapidshare.com/files/120464301/Fleet_Foxes_-_Fleet_Foxes_2008.rar

e os links para o EP Sun Giant:

http://www.badongo.com/file/8253362
http://www.zshare.net/download/88410958036a00/

Cotação: 5

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Sobrado do samba

O renascimento do samba vivido pela cidade do Rio de Janeiro nos últimos anos tem produzido talentos que bebem direto naquilo que o gênero tem de mais tradicional, reproduzindo a arte de Cartola, Zé Keti, Paulinho da Viola e outros bambas. Contudo, esse bom momento tem feito surgir também alguns grupos que tomam o samba como base, mas aglutinam a ele ritmos universais.

É o caso de Sobrado112, uma turma que morava no bairro da Glória, perto da emblemática Lapa, e resolveu se juntar para fazer uma fusão musical onde exercita, sem medo de ser feliz, todas suas influências sonoras. O resultado está no primeiro álbum da galera, Desmanche(2008), uma carta de intenções desigual, mas com algumas boas idéias que têm tudo para evoluir mais lá na frente.

Onde mais o grupo acerta a mão é na parte do bolo em que os músicos demonstram a paixão pelo samba e pelo jazz. Esse namoro ora é personificado em sambinhas puros, como na simpática “Sem Par” e no delicioso e arrastado sambão “Acionista da Boemia”, com poesia inteligente e participação especial do grande Aldir Blanc, ou na mistura do gênero com o jazz, a exemplo da fantástica “A Tira Gosto”, onde o trompete de Leandro Joaquim faz a diferença.

O jazz se diz presente também magicamente na bela introdução de “Sampranfant”, para se perder adiante quando a música vira um rap cantado em francês. Dispensável salada que pode ser vista ainda no ska-reggae instrumental “Juliana”, que parece deslocado no álbum. São pequenos tropeços que tiram um pouco a força de Desmanche, mas não o sentimento de que a banda pode fazer história. Vá de música brasileira:

outra opção:


Cotação: 3

terça-feira, 10 de junho de 2008

Metralhadora sentimental

É bem possível que depois da primeira audição de @#%&! Smilers(2008), o sétimo e mais recente álbum de Aimee Mann, o ouvinte tenha a sensação de já ter escutado aquelas doces e classudas canções nos trabalhos anteriores da artista. E vai estar com a razão. A compositora e cantora de belo timbre reprisa seu discurso intimista, suas melodias passionais e se utiliza da mesma instrumentação que apóia sua poética: violões, guitarras, piano e uma bateria coadjuvante.

Contudo, a norte-americana é tão competente naquilo a que se propõe, um folk na linha da grande Joni Mitchell, que a sensação de esgotamento criativo, no final das contas, pouco incomoda. Depois de arquitetar um disco conceitual, o razoável The Forgotten Arms(2005), no qual canta o relacionamento entre um boxeador e sua amada, ela destrava sua metralhadora giratória sentimental e volta a falar de desalentos, sofrimentos, perdas e danos, temas recorrentes para quem abre o coração e vive sem medo a maturidade (Mann nasceu em 1960).

Nesse sentido, @#%&! Smilers lembra um pouco Bachelor No. 2(2000), o terceiro - e para mim até agora imbatível - disco da carreira da artista. Em alguns momentos, Mann escancara sua poesia incendiária e melodias inspiradas. Está afiada na belíssima “Freeway”, onde um tecladinho animado se confronta com a passionalidade da canção, e em pelo menos mais duas jóias do disco, a tristíssima “It’s Over” e a evocativa, com seu coro de assobios, “Little Tornado”. Um som para os momentos mais delicados do dia.

Certifique-se se é por aí mesmo:

http://www.mediafire.com/?mty9xzr2w2h

ou

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Cotação: 4

P.S.: Quem comprar o CD, pelo menos lá fora, terá direito a um livro de 32 páginas com ilustrações do artista Gary Taxali.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Expressiva maturidade

The Zutons já foi considerada a melhor banda dos últimos tempos da última semana (copyright by Titãs) quando estreou, em 2004, com Who Killed the Zutons? Excesso típico da imprensa inglesa. Apesar do animado disco, os cinco músicos de Liverpool não chegaram a conquistar o mundo, como os conterrâneos mais famosos, os ícones Beatles, mas deixaram uma boa impressão.

No bom álbum seguinte, Tired Of Hanging Around(2006), o grupo manteve a chama acessa e o clima reforçado do rockão anos 70 e 80 que a banda sempre cultivou, dando um passo adiante. Influenciados por Kinks, Devo e Talking Heads, essa turma amadurece definitivamente e volta a destilar a mistura de rock básico, blues, soul, folk e indie na terceira cria, o recém-lançado You can do Anything (2008), um álbum cheio de gás e canções arrasa-quarteirão.

Pra quem curte o rock com equações musicais simples, o disco é uma bela lição. Desde a primeira música, “Harder and Harder”, cujo título traduz o espírito da mesma, The Zutons diz ao que veio, com seus solos de guitarras matadores, e melodias grudentas. “What’s your Problem” chega a seu um rock pueril de tão direto com sua alma setentista e “You Cold Make The Four Walls Cry”, com pitadas de black music, jogam o ouvinte numa outra e deliciosa época da história do rock’n’roll. Escute com atenção a guitarra endiabrada e a voz afinadíssima do vocalista Dave McCabe em "Family of Leetches", uma das grandes canções do trabalho e o saxofone correto de Abi Harding em quase todas as faixas.

E se você acha que um bom disco de rock não pode passar sem uma boa balada, The Zutons nos presenteia com a fantástica e climática “Dirty Rat”, uma das mais inspirada que já ouvi este ano. Aliás, este You can do Anything já é um dos melhores álbuns de rock de 2008 na minha humilde concepção.

Pra ouvir, experimente:

domingo, 8 de junho de 2008

Boa promessa

Rápidos no gatilho, vocais gritados, guitarras aceleradas e letras rasas, o mundo dos roqueiros de garagens tende a ser assim: urgente. É nessa toada que segue o bom grupo inglês Johnny Foreigner, power trio que lançou este mês seu debut, o pra lá de animado Waited Up 'Til it Was Light(2008), algo na linha do que faz algumas das bandas mais comentadas - no circuito alternativo - do ano, como Foals e Los Campesinos.

Explorando o contraponto dos vocais do também guitarrista Alexei Berrow, num tom que beira o desespero, e da afinada Kelly Southern, dona do baixo(o trio se completa com o baterista Junior Elvis), que vai do doce ao gritado em poucos segundos, o duelo rende bons momentos. É o caso de “Eyes Wide Terrified”, com coro dinâmico e refrão forte, e “Cranes and Cranes and Cranes and Cranes”, arquitetada em andamentos diferentes, ora relaxados ora nervosos, e que demostra que a banda, apesar de muito jovem, quis caprichar sim nos arranjos, ainda que, infelizmente, de forma irregular.

Mas, essa galera de Birminghan, que havia lançado até então um único e elogiado EP, Arcs Across the City, é fiel ao estilo garageiro, com composições rápidas e festeiras, como a ótima “Hennings Favourite” e “Yes, You Talk too Fast”, com riffs de guitarras convincentes e boas lapadas de distorção. Johnny Foreigner derrapa contudo nas raras baladas, como na dispensável “DJs Get Doubts” e em “Absolute Balance”, que exagera na microfonia. Enfim, excessos de quem está começando e se perde na vontade de abraçar o mundo. Fique com o lado mais bagaceira da banda.

O fato é que, com menos três ou quatros músicas, enxugando a parada, a banda teria feito um disco mais redondo e certeiro. Esses meninos podem dar ainda o que falar. Vamos esperar pelo equilíbrio. Enquanto isso, se tiver afim de experimentar, vá:

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Cotação: 3

sábado, 7 de junho de 2008

Sem perder a ternura

Por alguns instantes, na década passada, quando a música eletrônica com sua radicalidade surgiu como uma novidade no mundo, cheguei a pensar que as alucinadas BPMs não passariam de mero modismo. Percebi depois que o gênero veio para ficar. Mesmo torcendo o nariz pra boa parte do que se fazia na área, principalmente no que dizia respeito aos sons mais minimalistas, aquele do tuntistum interminável, fui descobrindo algumas vertentes mais melódicas e degustáveis, como o drum’n’bass.

E fui vislumbrando ainda os grupos que buscavam misturas em suas batidas e usavam a eletrônica como meio para idéias sonoras mais robustas e emocionais. A Europa tornou-se vanguarda no segmento, apresentando grupos super interessantes como o Air, Simian Mobile Disco e o Les Rythmes Digitales. Pras bandas das Américas, o Brasil explorou seu multiculturalismo e riqueza musical, fabricando petardos de pura fusão como, entre outros, DJ Dolores, Sonic Junior e Marcelinho da Lua.

Na América de cima da linha do Equador, o cosmopolitismo de Nova Iorque deu sua contribuição com o ótimo LCD Soundsystem, apertando o play da eletrônica ligada visceralmente ao rock, e Chicago criou até uma vertente mais melódica com um ar deja vu e que se aproveitava largamente de sintetizadores. E é desse estado norte-americano, que vem Walter Meego, onde finalmente, depois de tanto blábláblá, queria chegar.

Walter Meego faz parte de uma ala da música eletrônica mais voltada à canção. Aquela com variedade melódica que faz chacoalhar os pés, mas que também mexe com os neurônios. Voyager(2008), o disco de estréia do duo de Illinois, vai na cola do dance elegante e polifônico. Abusam dos sintetizadores, filhos que são do synth pop, e que os aproximam, segundo alguns críticos, do Daft Punk e do mais recente Justice. Acho, porém, que a dupla é ainda mais pop, leve e pé no chão.

Voyager traz um som superagradável, bom de “bombar” na pista, como demonstra a deliciosa música de trabalho, “Wanna be a Star”, e “Letting Go”, que flerta com o rock e aparece como uma das melhores músicas do disco. Se a dupla se lambuza de sintetizador, espertamente, pisa no freio do vocoder, usado com moderação como em “Girls”, com um tecladinho brega, mas que funciona muito bem.

Um álbum muito bacana para as pistas e que já começa a ser bastante tocado em muitos vucovucos do planeta. E como a pista não foi feita apenas pros pulinhos, o disco oferece até uma mela cueca de responsa, a boa “In my Dreams”, talhada para dançar coladinho. Walter Meego é, sem dúvida, uma das gratas surpresas eletrônicas do ano.

Confira:

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E também:

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Ou finalmente:

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Cotação: 4

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Bons de bola

Não resisti. Quando vi o novo álbum do Coldplay, Viva La Vida(2008) circulando abertamente na ilimitada rede, resolvi escutar com interesse. Afinal, fui, no passado, um dos milhares de ouvintes no mundo que ficaram chapados com as melodias incandescentes de Parachutes(2000), o primeiro e inesquecível trabalho desses músicos danados. Gosto de canções bem feitas, com alma e RG próprios. E os londrinos capitaneados por Chris Martin conhecem o caminho das pedras, como atestaram em sua carreira de quatro discos e milhões de fãs.

Viva la Vida não veio tomar o posto de obra-prima que até hoje ainda é do Parachutes. Não procure novidades efetivas. Essa não foi provavelmente a proposta dos caras. E logo vem aquela velha pergunta: mudar pra que? Mas o álbum inegavelmente encontra o Coldplay com a mesma verve, a mesma afinada mecânica para construir belas e instigantes composições, e mais inspiradas, para mim, do que no último e mais frágil trabalho da banda, o X&Y(2005).

Pelo menos foi o que senti ouvindo as ótimas “42”, com um piano arrebatador numa canção que muda de andamento surpreendendo positivamente os ouvidos, “Reign of Love”, e na beatlesneana “Violet Hill”, com suas guitarras hipnóticas. Essas, ao lado da também envolvente “Lost”, principalmente na versão acústica, podem figurar entre as melhores já feitas pelo grupo.

Mas, há insights que mostram um pequeno passo adiante na música dos camaradas, como na poderosa “Yes”, que mostra um Coldplay menos intimista, lírico, com uma pegada pop diferente, até mesmo pela inserção de sons asiáticos e "Lovers in Japan", com uma batida de bateria marcial que lembra U2. Aliás, há em outros momentos uma instrumentação que lembra o grupo irlandês, o que pode ser um sinal de que o Coldplay talvez começe a assumir o posto de uma banda que quer ser definitivamente grande.

Mas Viva la Vida perde a força em rock insossos, como na chata “Chinese Sleep Chant, com suas guitarras nervosas e mais estridentes e ainda na dissimulada canção que dá nome ao disco, que começa bem mas se perde lá pelo meio numa melodia fraca e repetitiva.

Bom, melhor que falar é ouvir. Veja, então, o que você acha desse aguardado disco(novos links):

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Cotação: 4

Para animar a sexta

O reggae e o dub jamaicanos surgiram no mundo para fazer um up grade na vida. Tá se sentindo meio sem graça, “como quem partiu ou morreu”, como diria Chico Buarque, ponha um “energético Jamaica” em sua vitrolinha e deixe que o som entranhe. Muitos foram os filhotes daquele gênero musical que surgiram mundo afora para espalhar “positive vibration” na cabeça esfumaçada da galera e para entortar corpos.

E foi pra pegar o pique de uma sexta-feira, este santo e iluminado dia, que ouvi Slightly Stoopid. Essa banda californiana(tinha que ser de lá, né!) até então desconhecida para mim, com claras influências da extinta e bacana Sublime, navega na maré do reggae, dub style, ska e lampejos de rap desde 1996. Fazem discos para praia, luaus e festas afins. Praticam essa velha mistura com competência, como fica claro em Chronichitis(2007). Lembrei aqui de meus bons amigos, Marcão e Triaca, amantes dos sons do gênero.

No quinto álbum de estúdio da galera, é possível encontrar o reggae leve e típico do Sublime já na primeira música, “Anywhere I Go”. Mas, o forte da turma é mesmo o dub, como nas boas “Blood of my Blood” e “Digital”. Mas, na fusão sem confusão que fazem, há espaço para misturebas com outras sonoridades, como em “Above the Clouds”, em que os metais lembram o sinuoso som da índia e em “Ocean”, na qual atacam de gaita folk e sax meloso. Os metais, aliás, aplicados sem excesso, são um dos destaques desse disco que, longe de ser espetacular, anima o dia.

Pegue a onda:

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ou ainda:

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Cotação: 3

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Solto na buraqueira

Gustavo Lamartine(o cara da foto ao lado) é um dos compositores mais talentosos da nova geração potiguar. Nova, na verdade, em termos. O caba faz música desde o final dos anos 80 do século passado. Começou com a saudosa General Junkie, um dos ícones da história do rock daquele estado, sempre ao lado do figuraça Paulo Souto, parceiros de doideiras e criação ilimitada. Duo da melhor qualidade.

Depois de alguns projetos musicais criados para incendiar a noite de Natal, Gustavo e Paulo criaram a DuSouto (http://www.dusouto.com/), atual formação(mais Joab Quental, Gabriel Souto e Júlio Castro), que faz um mix de eletrônica, rock e ritmos regionais. Depois de passarem por alguns festivais nacionais, chamando a atenção da crítica especializada, como o Humaitá pra Peixe, assinaram com a Nikita Music e botaram na roda o elogiado disco de estréia, que leva o nome da banda.

O lado da influência regional da dupla, que sempre me agradou mais e que, afinal, acaba sendo o diferencial do que se faz no Brasil inteiro, é o que salta na música “Moro na Esquina”, de Lamartine que, solo, inscreveu essa composição no simpático e boêmio festival MPBeco, no Beco da Lama, um dos pontos mais undergrounds e acolhedores de Natal. Com sua levada carimbó, ou algo parecido, a música é super-animada e tem um refrão contagiante. Deixo o link para baixar a música. Vá lá e curta:

http://mail.google.com/mail/?ui=1&attid=0.1&disp=attd&view=att&th=11a5574167b0937e

Cotação: 4

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Filhos do Pavement

Dentro do dilatado mundo do rock e seus subgêneros, o indie rock talvez seja um dos que tenha as traduções mais difusas e complexas. Afinal, não é novidade, a crítica adora rotular e as muitas variações perpetradas naquele universo permitiram a criação de novas qualificações, com fronteiras tênues, do tipo “indie pop”, “lo-fi”, “noise pop”, “college rock”, “art rock” e por aí vai.

Mas, há uma escola indie que definiu uma linha bem clara de som e que tem como ícones bandas como Guided by Voices, Hefner, Sebadoh e a grande Pavement. Indie rock por excelência, esta última surgiu como uma alternativa ao rock maisntream, marcado pelos solos de guitarra pomposos ou por baterias alucinadas. Ali, valiam mais as idéias e menos a técnica. Cordas mais displicentes, bateria mais marcada e vocais relaxados, com variações de tonalidade e afinação indisciplinadas.

Dessa escola, surgiram “trocentas” bandas. Alguns fizeram um up-grade do som de Pavement, mixando outras sonoridades. Outras seguiram o que o mestre mandou com poucas variações e teve aquelas que, mesmo com forte eco, inpuseram um pouco de personalidade na música que compunham. Nesse último caso se inclui uma banda californiana chamada Oranger que, em pleno anos 2000, patinaram deliciosamente no bom som feito na década de 90 do século passado.

Da galera, ouvi o que parece ter sido o último álbum da banda, o terceiro da carreira, chamado New Comes and Goes (2005). O disco é um pequeno achado, uma dessas jóias perdidas que, apesar de ter uma e outra bobagem, apazigua os ouvidos. A boa influência do Pavement está em músicas como "Drake" e "Sukiaki", aqui com levada mais pop, mas foge dessa onda em canções como “Outtatouch”, com um jeitão Velvet Underground(o pai de toda essa moçada) de ser. Outra boa pedida é “Crones” , um rockinho desavergonhadamente - desculpem - indie, e a balada monolítica "Haeter". Enfim, uma novidade que, infelizmente, do mesmo jeito que veio, foi.

Caia no indie:

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Cotação: 3

terça-feira, 3 de junho de 2008

Música maiúscula

O primeiro contato com Cida Moreira provocou em mim um misto de torpor e encantamento. Imberbe e estreando na grande metrópole de São Paulo, confundia-se em mim ao ouvir Abolerados Blues(1983) o espanto diante da grande cidade e a descoberta de uma música inconformada e em ebulição. Cida me escancarou as portas e janelas para a chamada vanguarda paulista. Depois dela conheci o grupo Rumo, o gênio Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé, que apesar de ser de Londrina, fez base em Sampa.

De Abolerados Blues – onde a intérprete e atriz cantava desde música de cabaré, “Surabaya Johnny” até uma fantástica versão de Caetano Veloso para poema de Maiakovski, “O Amor” – até os dias de hoje, Cida viajou pelo universo da MPB mantendo sempre uma coerência e repertórios coesos. Seu último trabalho, Angenor(2008), traz porém a seleção mais equilibrada e refinada entre todos os trabalhos – um dos seus melhores, com certeza - já gravados pela artista.

Em Angenor, de Angenor de Oliveira, nome de batismo do ícone Cartola, Cida baila em cima de 16 canções do mestre. Foge de obviedades, como a clássica “As Rosas não Falam”, para apresentar um repertório que passa por clássicos indiscutíveis como “Cordas de Aço” e “Acontece” e vai de encontro a músicas desconhecidas e fantásticas, como a toada trágica “Feriado na Roça” e a linda “O Silêncio do Cipreste”. Tudo muito orgânico, graças a arranjos delicados, calcados em cordas de violão e piano e a voz soberba, maturada e sem os arroubos teatrais de outrora da cantora. É Cida inteira num álbum que traz à tona, com muita honestidade, a música maiúscula e atemporal de Cartola. Irrepreensível.

Vá, sem medo de ser feliz:

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Cotação: 4

Bendito tango

Só sei que sei muito pouco sobre tango. Sei muito que nós brasileiros, não se sabe porque cargas d’água, sempre vivemos de costas para os sons produzidos pelos nossos vizinhos sulamericanos. Uma tremenda burrada. Nossas antenas musicais, como Chico Buarque, Caetano e Milton Nascimento tentaram crossovers no passado visitando a praia lírica de Pablo Milanez, Victor Jara e Mercedes Sosa. Mais recentemente, bandas como Os Paralamas do Sucesso apresentaram grupos como Los Pericos e integradores como Paulinho Moska divulgaram nomes como Jorge Drexler e Luciano Supervielle . Muito pouco para o rico universo musical produzido pelos hermanos.

Às vezes fico com a consciência pesada com relação a esse desconhecimento. Se antes era difícil ter acesso à bagagem sonora da sulamérica, devido a um mercado voltado para produtos nacionais e cantores do mainstream norte-americano e europeu, com a internet a gente não tem desculpas para dar. E foi sapeando na grande rede que dei de cara com Daniel Melingo, um dos muito nomes argentinos que exercitam e renovam o mais radical e apaixonado ritmo daquele país.

De Melingo ouvi Maldito Tango(2007). Mas, o que dizer deste álbum se sei tão pouco sobre o tango? O fato é que meus ouvidos se extasiaram. A voz rouquenha e oldfashioned do argentino, que mistura a potência dos exímios e mui conhecidos intérpretes de outrora, como Carlos Gardel, ao despojamento de roqueiros subversivos como Nick Cave, impressiona pela entrega. Mas, não é isso que é o tango, pura entrega?

Melingo, um ex-roqueiro que fez sucesso em Buenos Aires na década de 80 com a banda Los Abuelos de la Nada visita a face mais tradicional do ritmo, como em “En un Bondi de Color Humo” e em “A lo Magdalena”, mas investe também em experimentações, como na estranha “Pequeno Paria”, com direito a teremin, e em profundas viagens melancólicas de tempero jazzístico e com belo arranjo de cordas, a exemplo da linda “Eco il Mondo”. Tudo sem ceder à tentação de modernizar sua música com toques de eletrônica. Mesmo assim, o tango de Melingo é moderno e subversivo, uma talentosa ponte entre tradição e contemporaneidade. Uma delícia de se ouvir.

Tangue-se:

http://www.zshare.net/download/1204083152887ae6/

ou:
http://www.evilshare.com/84c326c2-7380-102b-8d56-00a0c993e9d6

Cotação: 5