quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

10 mais do Krebão

Com uma certa demora, mas ainda em 2008, seguem os 10 discos que mais me chamaram a atenção neste ano. Por não ter ouvido, posso ter deixado escapar muita coisa elogiada nas listas de revistas especializadas em música: Ting Tings, Glasvegas, Foals, Sigur Rós. Outras, escutei pouco mas não me impressionaram pra entrar nas melhores: TV On The Radio, Vampire Weekend, Santogold, MGMT, Fleet Foxes. E tem aquelas que escutei nos últimos dias, como The Kills e The Last Shadow Puppets (e que gostei, mas preciso escutar mais, assim como Killers e Keane, que numa primeira audição me decepcionaram). Perfeccionismos a parte, eis as listas:

Internacionais
1)
Metallica – Death Magnetic
Essa tava fácil: depois do fraco Saint Anger, o Metallica se redimiu e surpreendeu com petardos sonoros a muitos que já não davam nada para a banda (inclusive eu).

2) Muse – H.A.A.R.P.
Sei que é um disco ao vivo, sem inéditas, mas temos que dar um desconto, pois o Muse faz um dos melhores shows da atualidade.

3) The Kooks – Konk
Nada de novo, mas é tudo tão certinho que dá gosto (ou melhor, prazer) escutar.

4) The Hush Sound – Goodbye Blues
Uma surpresa, não conhecia essa banda: bela voz da vocalista e músicas boas para ouvir em uma viagem de carro.

5) Black Keys – Attack and Release
Outra banda que não conhecia e que me agradou de imediato: rock/blues vigoroso.

6) REM – Accelerate
O velho REM de volta ao rock básico, direto, sem frescuras.

7) Kaiser Chiefs – Off With Their Heads
Estão crescendo e fazendo ótimos shows: mantiveram o estilo de músicas grudentas, fáceis de ouvir.

8) Raconteurs – Consolers Of The Lonely
Um degrau acima do álbum anterior, quando estrearam. Superaram bem o "desafio do segundo disco".

9) The Fratellis – Here We Stand
Idem ao comentário anterior. Animação ao nível máximo, com músicas quase frenéticas (e duas baladinhas também, por que não?)

10) Panic At The Disco – Pretty Odd
Nessa eu talvez mereça uns xingamentos e até me arrependa depois. Pra mim são inofensivos, e provavelmente seja esse o mérito: músicas melódicas, sem vocais gritados, pra escutar descompromissadamente.


Nacionais
1) Skank - Estandarte
Competência e experiência a serviço da boa música.

2) Volver – Acima da Chuva
3) Marcelo D2 – A Arte do Barulho
4) Moptop – Como se Comportar
Três bandas com álbuns inferiores aos que lançaram antes, mas com patamares diferentes: o Volver amadureceu em relação a sua ótima estréia e cadenciou mais o som; D2 nunca mais fará outra “Batida Perfeita”, mas não decepciona; e do Moptop eu esperava mais, mas ainda podem crescer com seu som a La Strokes.

5) Macaco Bong – Artista Igual Pedreiro
6) Pata de Elefante – Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha
Música instrumental não é muito a minha, mas não é só no nome da banda que têm animais (no bom sentido, como o velho Edmundo – desculpem o trocadilho infâme): os instrumentistas são realmente feras e fazem um som potente e bem azeitado.

7) Curumin – Japan Pop Show
Som funkeado, contagiante, bem produzido, bom pra dançar. Letras curiosas, pra dizer o mínimo.

OBS: deveria ser 10 discos, mas escutei pouca música feita aqui em 2008...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Choro sincero

Antony Hegart foi um dos caras que mais me sensibilizaram nos últimos anos. A voz preciosa e precisa, de timbre único, me pegou de jeito quando ouvi o super-elogiado I Am the Bird Now(2005), que na época entrou na lista dos melhores do ano de várias revistas especializadas. Muitos não gostam do exagero e da teatralidade do artista, que exercita sua androginia à beira do piano e destilando canções passionais. Gosto de sua coerência, coragem e afinação. É um cantor e compositor de que sempre espero muito.

Antony & the Johnsons vão lançar na segunda quinzena de janeiro de 2009 o terceiro disco de estúdio: The Crying Light. Já caiu na rede. E é peixe grande. O grupo é daqueles que dividem opiniões. Ou se gosta ou se odeia. Pra quem torce o nariz, é melhor nem ouvir o álbum, mais difícil que o anterior. Mais triste e lamentoso. O título, assim como a capa, uma foto dramática do performer japonês Kazuo Ohno, foram escolhidos, assim, à perfeição. A palavra cry e suas derivadas estão em muitas das letras desse trabalho. Ele chora até pelo dia luminoso e pelo sol, como em "Daylight and the Sun"

A voz de Antony, um choro sincero, continua linda e tocante. As músicas, porém, um pouco menos inspiradas do que no trabalho que o tornou conhecido. Ainda assim, The Crying Light é uma ode à beleza. Canções como “One Dove” , “Aeon” e “Another World” tem melodias acachapantes. Os arranjos cuidadosos são minimalistas: muito piano e algumas cordas e bateria ao longe, emoldurando a melancolia das composições.

Em raros momentos, Antony Hegart se permite uma certa vivacidade e balanço, como em “Epilepsy is Dancing”. Em outros, mostra que sua convivência com a islandense Björk, com quem veio cantar este ano no Brasil, rendeu frutos, a exemplo da experimental “Dust and Water”. Um álbum para se ouvir com carinho e cuidado.

Com toda tristeza do disco, fico feliz em me despedir de 2008 com a postagem desse álbum. Que ele traga, com sua espirituosidade, todas as alegrias que merecemos em 2009. Que ano que vem a música nos inunde com todo seu poder de transformação.

Vá, sem choro nem vela:

http://rapidshare.com/files/177301581/aatj_Tc234lig_by_mermize.rar

Cotação: 4

sábado, 27 de dezembro de 2008

Inferno dantesco

Assisti no dia de natal a um filme nada natalino: Gomorra. Essa palavra nos remete imediatamente ao templo da luxúria documentado no antigo testamento. Local de muito sexo, drogas e rock'n'roll. Só que a Gomorra do título tem mais a ver com a babel violenta da Scampia, um bairro periférico da cidade de Nápoles, na Itália, marcado por um conjunto habitacional vertical feio de dar dó. Aqui reina a Camorra, máfia das mais desumanas daquele país de sangue quente.

O filme de Matteo Garrone carrega nas tintas. Um soco no estômago. Com um estilo meio documental, o diretor mostra como as pessoas pobres daquela periferia napolitana são reféns da violência e do medo. Scampia é o maior território de venda a céu aberto de drogas. Um mundo a parte. Lembra um pouco os morros do Rio de Janeiro comandados pelos traficantes. Só que sem um pingo de poesia, com mais virulência e sem a maravilhosa paisagem do mar para dar um refresco.
Segundo os créditos finais do filme, a Camorra mata um indivíduo a cada três dias. Mortes descaradas e esperadas. São jovens, mães, adultos e crianças corrompidas. Alguns conseguem escapar do olho grande e da vigilância dos mafiosos. Muitos poucos. Quem trai a organização, que se fortalece com o tráfico de drogas pesadas e até o negócio de aterros clandestinos para lixo radioativo, tem destino cruel, como são as imagens de Gomorra. A polícia pouco consegue fazer. Uma batidinha aqui, outra acolá. A força da mafia de Nápoles é maior e mais aterrorizante.

Com luz natural(algumas das cenas são filmadas com pouquíssima iluminação ou até nenhuma), o filme é perturbador, principalmente pela falta de perspectiva de pessoas que vivem à margem da felicidade. Acompanhar as cinco histórias paralelas que Gomorra oferece é dar de cara com uma realidade que poucos conhecem. O mundo é cruel. E nesse caso específico, não tem Natal que arrefeça a aridez mostrada nesse longa. É preciso ter disposição e sangue de barata para não ficar mexido com o filme. Recomendado para quem quiser ver o lado escuro de uma Europa, o outro lado de um continente que não é só cartões postais e prosperidade.

Bateu na trave

Os escoceses do Glasvegas chamaram a atenção da crítica em 2007 com a música “Daddy’s Gone”, com uma levada que remetia ao grandiloquismo do The Smiths e às guitarras sujas do Jesus and Mary Chain, influências confessas da banda. Em 2008, gerada a expectativa, lançaram o CD sem título que acabou entrando na lista dos melhores do ano de algumas publicações especializadas. Não era pra tanto.

Glasvegas não corresponde às expectativas criadas pela crítica, apesar do grupo liderado por James Allan, vocalista e guitarrista, ir de encontro à linha mais melodiosa típica das bandas daquele país que fizeram sucesso no meio indie, como Belle & Sebastian. Também não chegam ao exercício experimentalista de outro conterrâneo, o excelente Mogwai. O grupo, que conta ainda com Rab Allan (guitarra e backing vocal), Caroline McKay (bateria) e Paul Donoghue (baixo), prefere a praia revivalista.

E nesse revivalismo há ecos de guitarras menos comportadas(olha o Jesus and Mary Chain aí, gente) em contraponto a uma bateria marcadinha e careta. O contraponto torna-se interessante em composições como “Geraldine”, música de trabalho do disco, mas acaba cansando pela repetição. Um certo gosto pelo rock bubblegum dos anos 50 e 60 impera em músicas como “It's my own cheating heart tha” e “Polmont on my mind”.

Melhor mesmo é ficar com as climáticas “Flowers e Football Tops” e “Go Sguare Go”, marcadas por cordas tensas, e a linda balada “Ice Cream Van”. Com seu debut, o Glasvegas não disse ainda a que veio, mas há aqui sinais de que essa banda pode fazer ainda um disco vigoroso. É esperar.

Vá de:

http://rapidshare.com/files/163904281/glasvegas__2008__192kbps_by_yhf.rar

Cotação: 3

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Santo Klaus

De quando em vez a gente se depara com algumas gratas surpresas no fértil terreno da MPB. É o caso do, até então para mim desconhecido, pernambucano Kiko Klaus. O artista lançou recentemente o superinteressante O Vivido e o Inventado(2008), um álbum mestiço onde mistura inteligentemente influências regionais e o que ele aprendeu em suas andanças pelo mundo.

O Vivido e o Inventado é daqueles trabalhos passionais e generosos no qual percebe-se claramente a entrega do seu autor. Dessa superexposição é possível ver o quanto a Espanha, onde Klaus tocou com vários artistas, deixou um lastro em sua produção. Os acordes flamencos aparecem na bela “A Hora”, com traços marcantes do maracatu de sua terra natal e uma temperatura emotiva que lembra “Corsário Negro”(Aldir Blanc/João Bosco), com sua poesia rasgada.

Diverso, o álbum se ampara ainda nos ritmos da infância de Klaus, como na ciranda “A Caminho do Mar”, com letra lúdica e intensa, onde há espaço, sem exageros, para barulhinhos eletrônicos que tornam a música ainda mais atraente. O Nordeste se faz presente ainda na linda “Varanda”, um reggae-sertão com doce infusão de sonoridades típicas daquela região pero sem perder a modernidade.

Guloso, Kiko Klaus, cujo timbre de voz é uma mistura de Gonzaguinha com Zeca Baleiro, vai ainda, sem escorregar, de trip hop, na atonal “Altar”, que lá pelo meio descamba para atabaques de candomblé mantendo a bela estranheza. E encanta com sambinhas de boas lavras, como o “Samba Chora”, com arranjo bacanérimo, e “Caminhão”, uma das melhores do disco. Enfim, um novo nome chega para marcar tento na MPB. Um gol de placa de Klaus, que sugere aos bons ouvintes acompanhar com atenção a carreira desse pernambucano.

Se ligue:

http://rapidshare.com/files/169837293/kiko_klaus_o_vivido_e_o_inventado.rar

Cotação: 4

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

10 mais do Dr.Tímpano

Fim de ano e é aquela história: difícil fugir da listinha dos 10 melhores álbuns do ano. Como não sou de ferro, lá vai a minha. Aliás, as minhas: a gringa e a nacional, as duas sem ordem de importância. Manda a sua também, Krebão.

De fora

1.- The Last Shadow Puppets - The Age of Understatement
2.- Coldplay - Viva La Vida
3.- Fleet Foxes - Fleet Foxes
4.- Sigur Rós - Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust
5.- The Kills - Midnight Boom
6.- Devotchka - A Mad & Faithfull Telling
7.- Santogold - Santogold
8.- Racounters - Consolers of the Lonely
9.- Nick Cave and the Bad Seeds - Dig, Lazarus, Dig!!!
10.- Elbow - Seldom Seen Kid

Daqui

1.- Fernanda Takai - Onde brilhem os olhos Seus
2.- Virgínia Rosa - Baita Negão
3.- Cida Moreira - Angenor
4.- 3 na Massa - Na confraria das Sedutoras
5.- Wado - Terceiro Mundo Festivo
6.- Pedro Luís e a Parede - Ponto Enredo
7.- Zeca Baleiro - O Coração do Homem-Bomba
8.- O Rappa - 7 Vezes
9.- Alcione - De Tudo o que eu Gosto
10.- Macaco Bong - Artista Igual Pedreiro

Dias de sol

Dr.Tímpano explorando o login do Kleber

Parece que voltamos à década de 80 com seus sintetizadores pops e bateria com batidinha básica. É assim que me senti ao ouvir Perfect Symmetry (2008), o terceiro disco dos ingleses do Keane. A banda volta descaradamente ao passado sem perder a contemporaneidade. E faz um álbum bem alegre a bacana. Bom para as pistas mais descoladas e, quando desacelera, para se emocionar.

Diferentemente do que havia feito antes nos grandiloquentes Hopes And Fears(2004) & Under The Iron Sea(2006), o Keane resolveu fazer um trabalho mais dançante, que lembra o Bowie dos anos 80 e até, no que isso tem de positivo, Duran Duran. A turma usa e abusa dos sintetizadores como na música de trabalho “Lovers are Losing” e em “Spiralling”, que abrem o disco jogando o som para cima.

Os sintetizadores grudam no ouvido como os refrões. Bons melodistas, os rapazes do Keane capricharam. “Again and Again”, a mais oitentista das composições e “You Haven’t Told me Anything”, esta com um tecladinho deliciosamente brega, são das melhores da lavra do grupo. Para quem gosta de músicas mais lentas, “Playing Alone” e “Love is the End” são melodias açucaradas e ternas, com o vocalista Tom Chaplin derramando emoção sem perder a linha.

Perfect Symmetry é, sem dúvida, o melhor trabalho do Keane e um dos bons lançamentos do ano.

Cheque:

http://sharebee.com/b6e01d3e

Cotação: 4

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Como água pra chocolate

Pense numa tarde a beira de um lago iluminado pela serena luz de um estupefaciente entardecer. Aí, você põe pra rolar o Dark Captain Light Captain. O debut da banda inglesa, intitulado Miracle Kicker(2008), é desses disquinhos melancólicos, carregado de doçura e algumas pitadas de psicodelia. Bom praquele cenário descrito no início do texto. Um folk que nos remete, pelos bons arranjos vocais, ao que fazia Simon e Garfunkel na época da melosa "Bridge over Trouble Water".

Se você não tem preconceito com o folk descarado, deixe-se levar. A moçada do DCLC sabe fazer um bom cozido musical. A lisergia presente em músicas como "Miracle Kicker" e "Parallel Bars", onde uma guitarra repetitiva e os vocais afinados de Dan Carney, lider da banda, Giles Littleford (guitarra), Mike Cranny (baixo) e Laura Copsey envolvem completamento o ouvinte. A bateria a cargo de Chin Of Britain harmoniza-se obedientemente com a proposta zen do disco.

Em algums momentos, a turma sobe um pouquinho o tom, como na ótima "Jealous Enemies", com a delicada voz de Laura Copsey sobressaindo-se magicamente. Em todas as composições, as cordas de Carney e Littleford emolduram onipresentemente as melodias. A introdução de "Circles", por exemplo, e, principalmente, de "Remote View", a mais bonita do disco, deixam bem claro o domínio das guitarras e violões com acento folk. De chorar pela pungência. Uma bela estréia que aponta prum claro futuro.

Dê uma alô ao capitão:

http://sharebee.com/05e165c7

Cotação: 4

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Sou umbigo

Sou fã do Los Hermanos. Nunca escondi isso, apesar da patrulha ideológica de alguns amigos. Mas, a banda se foi e os seus integrantes resolveram seguir, logicamente, suas carreiras solos. Marcelo Camelo é o primeiro a dar a mão à palmatória. A se desnudar, sem o apoio de um coletivo, caso de Rodrigo Amarante, que faz parte da ótima Orquestra Imperial com um CD já lançado. Por isso mesmo, Sou (2008), de Camelo, era um trabalho bastante esperado no mercado fonográfico.

O resultado dessa espera não é exatamente revigorante. Com Sou, Marcelo Camelo faz um trabalho refinado e em tom menor, sem arroubos criativos e na direção do umbigo do artista. Muito calminho o disco, que chega a remeter, em alguns momentos, a música de ninar, como é o caso das versões instrumentais de “Saudade” e “Passeando”. Trilha sonora para dias calmos e de coração aberto. Com se um filme zen passasse em frente de nosso olhos.

Sou é uma espécie de continuação, tirando todo o apelo radiofônico, do já em câmera lenta 4, último trabalho dos Los Hermanos. “Téo e a Gaivota” é, por exemplo, uma composição serena, com ecos orientais, e carregada de deliciosas obviedades na letra, como na hora em que diz que “todo ser humano pode ser humano”. A atmosfera lenta é devidamente reforçado pelo acompanhamento dos paulistanos, endeusados no underground, do Hurtmold, um dos acertos do álbum.

Desacerto foi a escolha de Mallu Magalhães, com sua vozinha miúda, para cantar a linda “Janta”, uma balada açucarada que desanda com a participação da moçinha. Mas, Camelo volta a ganhar pontos com a abolerada “Doce Solidão”, talvez a música mais encantadora de Sou, com seu pegajoso assovio no início e uma grande melodia. O disco falha, contudo, no excesso de melaconlia e intimismo, uma opção do artista, que torna a audição letárgica. Sobrou coração e faltou pulsação.

Sinta toda a história:

http://w15.easy-share.com/1701729826.html

ou:

http://www.filefactory.com/file/47609e/n/MC_Sou_www_baixemusicascompletas_blogspot_com_rar

ou:

http://lix.in/-32ac0e

Cotação: 3

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Tiro n’água

Seven Mary Three nunca conseguiu dar o seu pulo do gato. Conheci o som desses norte-americanos tardiamente, mas a partir da mesma fonte que a maioria teve, o álbum de estréia American Standard(1995), que trouxe o único sucesso do grupo, a ótima “Cumbersome”. Gostei muito do que ouvi. Voltei a ter contato com a banda com The Economy of Sound(2001), mas a magia gerada antes não era mais a mesma.

A decepção que The Economy of Sound me trouxe se repete em Day & Nightdriving (2008), o sexto disco lançado tempos depois que o Seven Mary Three colocou as barbas de molho. A parada estratégica não ajudou muito o grupo que já vinha produzindo um trabalho pífio. Em 2001, Jason Ross, o vocalista com timbre parecido ao de Eddie Vedder, o post-hippie do Pearl Jam, já não contava com o companheiro Jason Pollock, colega de universidade e parceiro de composições. O último CD parece ressentir-se dessa parceria e, pior ainda, de boas idéias.

Falta a Day & Nightdriving a jovialidade garageira que acompanhou a banda em seus trabalhos dos anos 90. Tudo bem que os músicos amadureceram, não têm as mesmas preocupações e inquietudes, mas bem que poderiam ter mantido a verve roqueira que conquistou muitos fãs, principalmente nos Estados Unidos. Sem gás, o grupo parte para um lado mais country, alt-country para ser mais honesto, como antevê a capa do disco. Caso das chatinhas “Dreaming Against Me” e da mela cueca “Strangely at Home Here”.

Mas, ainda há ecos do bom rock da banda, ainda que tímido, na boa “Last Kiss”, com seu refrão engenhoso, e na lenta e bonita “Hammer and a Stone”, que lembra a cultuada banda American Music Club. Raros momentos em que a voz abençoada de Jason Ross encontrou criações a altura de sua potência. Ainda não foi dessa vez que o Seven Mary Three voltou às graças com o seu público. A gente espera a próxima tacada.
Se quiser, vá:
Cotação: 2

domingo, 12 de outubro de 2008

Tambores de guerra

Não lembro de ter lido em algum lugar. Mas, o fato é que esse carioca da gema chamado Pedro Luís é filho de santo forte. E se seu amor pela batucada, evidenciado desde o início de sua carreira pelo feliz acompanhamento do combo A Parede percursionistas e músicos de mão cheia – é um sinal de que ele sempre teve um pezinho na África, com o lançamento do bom álbum Ponto Enredo(2008), o artista finca de vez os dois pés no inspirador continente africano.

Ponto, para quem não sabe, dentro da cultura iorubá é o batuque hipnótico presente nos rituais de terreiros de macumba. Ponto Enredo, o álbum, vai na raiz ancestral dos tambores africanos e toma um banho radical. Vira um disco conceitual nessa busca da batida perfeita, onde mistura as típicas batucadas tribais, os pontos, com o samba.

O resultado dessa mistura, talvez uma procura pelos pontos de intersecção do ponto de macumba e do samba obviamente sem qualquer intenção antropológica do artista, é interessante e revela um Pedro Luís, um de nossos mais talentosos compositores, rendido despudoradamente aos velhos tambores de guerra. Uma rendição, contudo, que não perde de vista a carga de contemporaneidade e a miscigenação de influências bem características dos músicos de sua geração.

E desde o início, na suingada “Santo Samba”, Pedro Luís e a Parede já mandam o seu recado e atacam com um batuque vibrante. “Do jeito que as coisas andam. Os santos estão pirando. Não dão conta da demanda”, alertam. Mas, nem por isso, deixam a felicidade de lado. “O samba é um santo remédio para quem quer viver”, remendam depois. A música chama para a festa misturando samba e, de uma forma mais suave, ponto de macumba.

Mas, ponto forte mesmo vem a seguir com a música que dá nome ao disco, “Ponto Enredo”. O uso da percussão e os elementos seminais do candomblé, como trovão, água de cheiro, ervas remetem ao terreiro, mas a melodia e uma guitarra sensual traz modernidade e beleza à canção. A iconografia iorubá está também em “Mandingo”, um outro “ponto samba” envolvente e que mostra um Pedro Luís completamente senhor de si em sua arte de criar composições competentes.

Competência inclusive para tocar no rádio. “Ela tem a beleza que eu Nunca Sonhei” é samba de roda, de raiz, um partido cantado junto com Zeca Pagodinho prontinho para virar sucesso. E também arriscar um rock mais à esquerda, como na ótima “Tem Juízo Mas não Usa”.

E esse é Pedro Luís, quatro discos depois da estréia e com pelo menos uma obra prima, Astronaura Tupy(1997), livre para mergulhar radicalmente na sua paixão pelos tambores mas sem medo de ser feliz em composições populares. Ponto Enredo é bola dentro, uma goleada de nossa brasilidade.

Vá de batucada:

http://w13.easy-share.com/1701795988.html

ou:

http://rapidshare.com/files/149759764/UQT2008_Pedro_Luis_e_A_Parede_-_Ponto_Enredo.rar

Cotação: 4

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Margot gosta de complexidade

Gosto de bandas pretensiosas. Independentemente do resultado de suas buscas, elas tentam pelo menos ter uma identidade própria, uma sonoridade diferenciada. A norte-americana Margot and the Nuclear So and So’s segue essa trilha. Richard Edwards, o vocalista e líder do grupo, faz assumidamente o que se convenciona chamar de art-rock. E nesse caso, leia-se arranjos complexos, melodias mais rebuscadas e pretensão.

Em Not Animal(2008), um dos álbuns do último projeto do grupo, que conta com um lado B, o vinil Animal, Margot, aprofunda sua música emocional e barroca. Antes havia lançado apenas o disco The Dust of Retreat (2006) sem muita repercussão. No meio do caminho entre o pop e o indie cabeça, o trabalho mais recente busca coesão. E quase chega lá. Excetuando as derrapadas, como nas poucas inspiradas "Hello Vagina" e "As Tall as Cliffs", o trabalho tem lá sua solidez, com composições boas de ouvir com um headphone de qualidade, para buscar os barulhinhos e detalhes dos arranjos.

A complexidade dos arranjos, bem costurados, está presente na orgástica "Cold, Kind and Lemon Eyes", que começa sussurrante, com instrumentação tímida, até ganhar contorno épico do meio em diante tirando o ouvinte do eixo. Repare na surpreendente orquestração de violinos em perfeita harmonia com uma guitarra mais pesada e no coro suave. Fascinante.

Outro bom exemplo da consistência musical de Not Animal está em "A Childrens Crusade on Acid", de melodia climática e que lembra um pouco Radiohead pré Ok Computer e na bacanuda "Page Written on a Wall", com inserção de metais com influências mexicanas, microfonia e vocal desesperado que resumem bem a inquietação criativa do grupo. Pretensões de lado, dê ouvidos a Margot. Vale a pena.

Arrisque:

http://rapidshare.com/files/151379070/MATNSAS_Vic.zip

Cotação: 3

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Esquenta

Já que The Hives está no Brasil (e hoje em Brasília), nada melhor que um aperitivo do que está por vir. Supervisionado por vários produtores – entre eles, Pharrell “Neptune” Williams, The Black And White Album foi lançado em 2007 e traz algumas diferenças significativas em relação aos discos anteriores: basta ouvir as estranhas “Giddy Up” e “Puppet On A String” ou “A Stroll Through Hive Manor Corridors” (esta, uma “não-música”, que deve ser usada nos shows para deixar o público esperando por uma paulada sonora). Dessas que têm tecladinhos, as mais razoáveis são “It Wont Be Long” e “Bigger Hole To Fill”. Já “T.H.E.H.I.V.E.S” é bem funkeada e tem, inclusive, voz em falsete. Definitivamente, programações eletrônicas, barulhinhos de vídeo-game, abuso de teclados, não parecem com os The Hives anteriores. E, no geral, não funcionou muito bem.

Mas, felizmente, essa guinada para o dance/ eletrônico também suaviza os gritos do vocalista e, ao mesmo tempo, não exclui por definitivo o lado mais energético e arrebatador da banda. Prova disso é a seqüência das três primeiras faixas do disco: a matadora “Tick Tick Boom”, a excelente “Try It Again” (com seu corinho de backing vocals) e a dançante “You Got It All...Wrong”. Depois ainda tem “Hey Little World” (muito boa), “Return The Favour” (bacana), “Square One Here I Come” (com seu riff básico e eficiente de guitarra) e “You Dress Up For Armageddon” e “Well Alright” (parecem com The Fratellis).

Bom show a quem for hoje no Arena! Enquanto isso:
http://www.zshare.net/download/182393590a836ad1/

Cotação: 3

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Novidade?

E lá se vão 11 (!!!) anos desde o lançamento de Urban Hymns e do grande sucesso “Bitter Sweet Symphony”... Não sei exatamente o por quê, mas sempre achei um saco essa música, e isso acabou me fazendo torcer o nariz para o Verve. Quando conheci “Sonnet”, “Lucky Man” e “The Drugs Don´t Work”, do mesmo disco, diminui minha repulsa e fui conhecer um pouco mais da banda, mas não adiantou muito, pois, pra mim, Verve vai ser sempre sinônimo de músicas enjoativas, loooongas, quase sonolentas. É o caso, por exemplo, da quase hipnótica “Numbness”, uma das faixas de Forth (2008), que marca o retorno da banda após nove anos de separação.

Apesar disso, “Valium Skies” se salva, pois termina antes que comece a ficar chata. “Rather Be” tem uma melodia interessante. Algumas músicas destoam do estilo de som da banda, como “Love Is Noise”, com sua levada meio dançante, e a pesada “Noise Epic”. Já na faixa bônus “Chic Dub”, o Verve arrisca um leve dub, que tem tudo a ver com o estilo viajandão da banda. Ah, e “Judas” vai indo bem até quase o fim. No mais, nada que me empolgue, nem que lembre as melhores do Urban Hymns, citadas anteriormente.

Boa sorte:
http://www.mediafire.com/?sharekey=10264b26e89b42d6ab1eab3e9fa335ca82d4d0253b95b0ba

Cotação: 2

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Esquentando a festa

Tá de bobeira e querendo balançar o esqueleto? Sugiro o sonzinho animado de uma banda inglesa de pop/disco punk chamada Dartz! O nome do álbum: This is My Ship(2008). O trio britânico ataca com uma sonoridade despojada, sem acelerar nas batidas como gostariam os mais radicais. Barulhinho bom, desses para dar um brilho em início de festa, quando as pessoas estão esquentando os motores.

O punk dessa turma com um jeitão, cá pra nós, meio indie está bem traduzido logo na música que abre o disco, a deliciosa “Network! Network! Network!”. Em “A Simple Hypothetical” acertam na veia e são mais fiéis ao estilo que representam, com direito a gritinhos, acordes repetitivos e bateria no talo. Ao lado de “Pregos Triangolos”, essa bem menos previsível e com um dueto vocal desleixado, é das melhores do álbum.

O trio prefere, contudo, em This is My Ship assumir um lado descaradamente pop, como fica claro em “Once, Twice, Again!”, que os aproxima, só para comparar, do Offspring, e em “Cold Holidays”, que tem a mesma fervura de bandas como a cult 311, buscando outra comparação mais acessível. Dart! fez um trabalho ok e potencialmente radiofônico. Mas, essa turma pode mais. E conto fervorosamente com isso.

Querendo, vá de:

http://rapidshare.com/files/37462283/D-TIMS.zip

Cotação: 3

sábado, 16 de agosto de 2008

White Stripes ao contrário

Kleber Rocir – Especial para o Todoouvido

Quando estava garimpando na net algo para postar no Todoouvido me deparei com o Blood Red Shoes, banda inglesa que lançou em abril de 2008 seu primeiro disco, Box of Secrets. De imediato fiquei curioso com os comentários de que a banda era um “White Stripes ao contrário”, no caso uma mulher na guitarra/vocal (a gata Laura-Mary Carter) e um homem na bateria, Steven Ansell, que reveza os vocais com a beldade citada.

As comparações com os Stripes se restringem à troca de posições dos músicos – e isso faz toda a diferença: Ansell marca o ritmo das músicas, tocando sua bateria rápido e forte, algo inimaginável para a fraquinha Meg, batera dos Stripes. É só ouvir a pulsante “I Wish I Was Someone Better” (a melhor do álbum) e a ótima “Its Getting Boring By The Sea”, ambas prontinhas pra animar uma festa. Na guitarra, Laura não tem os dedos virtuosos do líder dos Stripes, Jack White, mas completa direitinho o som que o Blood Red Shoes se propõe a fazer: um indie-rock vibrante, sem baladas.

A única ressalva a fazer é quanto ao final de algumas músicas: a esperta “You Bring Me Down” e a bacana “Take The Weight” poderiam ser mais enxutas nos vocais, que acabam ficando enjoativos e chateiam um pouco no final. Já em “ADHD”, Laura poderia gritar um pouco menos - coisa que ela não faz em “This Is Not For You”, e deixa o vocal mais suave. Mas, é provável que isso seja preciosismo de minha parte, pois no geral a dupla inglesa fez uma boa estréia. Aliás, uma curiosidade sobre o nome da banda, que foi tirado de um musical de Ginger Rogers e Fred Astaire: nele, Rogers torna um par de sapatos brancos em vermelho, com sangue, resultado de sua constante prática da dança. Então, que tal ver se os Blood Red Shoes fazem jus ao nome?


http://www.mediafire.com//?sharekey=10264b26e89b42d6ab1eab3e9fa335ca67ba8cfd3ec86006

Cotação: 3

Trio de elite

Com um nome no mínimo curioso, o trio Chin Chin já vem seduzindo há algum tempo fãs por todo o planeta. Som para ouvidos mais apurados, esses americanos do Brooklyn faz uma mistura pra lá de suingada de funk e jazz. Bom pra agitar nas pistas com sua inspiração retrô que remete aos anos 70. E no que esses anos tiveram de mais elegantes. Impossível não se animar com a sonoridade setentista e os metais vibrantes do disco homônimo lançado em 2007.

O último disco do Chin Chin já começa esfuziante na fantástica “Miami”, com seus breques jazzísticos, e emenda com a cool mas não menos dançante “Apettite”. O disco continua animado com “You Can’t Hold Her”, com percussão tribal e com eco mais roqueiro na ótima "Curtis", que lembra um pouco o ótimo Daft Punk. Em poucos momentos, pendem para a eletrônica, como em “Dontchuse", mas o melhor é fica com a pegada funk vintage de “Where is my Time”.

Chin Chin bebe da mesma fonte alternativa com formação requintada de grupos como o possante TV On the Radio. A cena novaiorquina aliás sempre foi uma das mais interessantes quando se procura um som mais robusto, com referências musicais mais pesquisadas e radicais. O power trio é formado por Wilder, vocal(aliás, bem afinado), o DJ Torbitt, na bateria, e Jeremy, na guitarra. Guardem esses nomes e se deliciem com o novo petardo da turma.

Bom apetite:

http://rapidshare.com/files/52305807/ChChCC07.rar (obs: copiem colem este link que funciona!)

Cotação: 4

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Pausa pro barulho do mundo

Prezada galera,

Sei que o blog anda meio devagar. Na verdade, devagar quase parando. Coisas da vida. É que tou no norte, trabalhando pesado em outra frente. E isso me deixou com pouco tempo para ouvir música e escrever, enfim, meus despretensiosos textos. Nesse exato momento sinto uma imensa saudade de falar sobre música. Sem puder fazê-lo, só me resta contentar com o barulho impreciso do mundo. Ainda bem que isso também, em alguns momentos, também é música. Até a volta. Prometo me entupir de som bom e recuperar o tempo perdido.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Muito prazer, Mr. Darnielle

Não conhecia os californianos do Mountain Goats. Mas, eles já são arroz de festa para aqueles que conhecem a fundo o indie rock mais classudo. O líder do grupo, John Darnielle, está na estrada há muito tempo, desde 1991. Tem vários discos solos onde pratica com uma voz meio anasalada sua verve poética e esquisitices. Em seu último trabalho, Heretic Pride(2008), acompanhado de uma turma competente, mostra que é compositor inspirado e consistente.

Heretic Pride é um discaço. Darnielle, ao lado do baixista Peter Hughes e do baterista Jon Wurster, lembra, às vezes, Lou Reed, quando este resolve contar histórias. Caso da espetacular “In the Craters of the Moon”, introduzida por um teclado e com levada bem dançante, com o vocalista rasgando o verbo e a voz. O grupo deixa aliás o lo-fi, uma de suas marcas, de lado para fazer um álbum animado. Vide as ótimas “Lovecraft in Brooklyn”, com sua guitarra matadora, e “Sept. 15th 1983”, com tempero reggae.

O disco baixa o tom sem perder a graça com canções mais suaves e melodias extremamentes hábeis, como “San Bernardino”, toda desenvolvida com um arranjo apenas de cordas e voz, e “Autoclave”, diáfana e amansada ainda mais por uma linda e econômica voz feminina. Dizem os entendidos em Mountain Goats que essa é uma das obras mais palatáveis da banda. Para mim, Heretic Pride, meu primeiro contato com essa moçada, é um grande lançamento que abre as portas da percepção para um artista inteligente e criativo. Só tenho a dizer: muito prazer, Mr. Darnielle.

Vá à luta:

http://www.mediafire.com/?bm4in012aoy

ou:

http://www.mediafire.com/download.php?4wwokzb3xjt

Cotação: 5

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Wado na cabeça

Na seqüência da postagem sobre o Kristoff Silva, resolvi pegar o embalo para falar de um outro bom cabra que está ajudando a renovar a nossa música. Dessa vez, o cara já está na estrada há uma década e sempre lançando álbuns bacanas e, infelizmente, pouco ouvidos. Pobres ouvintes brasileiros incultos. Falamos aqui do alagoano Wado, que colocou no mercado, de maneira independente, o muito legal Terceiro Mundo Festivo(2008).

Wado é desses caras antenados com o mundo moderno, que belisca aqui e ali as linguagens da música eletrônica sem nunca perder de vista a brasilidade e o batuque. E isso a ponto de criar uma música orgânica com marca e tudo. Sua marca, o piano e guitarra que pontuam as melodias e a percussão leve, bem próxima da velha batucada de arquibancada de estádios, dizem mais uma vez presente nesse seu quarto trabalho.

Menos sombrio do que o disco anterior, a Farsa do Samba Nublado(2004), este Terceiro Mundo Festivo está mais suingado, com temas mais felizes, mas sem perder o engajamento jamais. Caso da “Revolução pelo Ar”, cuja letra defende a “Reforma Agrária no Ar” via rádios comunitárias, embalada por uma melodia funkeada, outra das marcas registradas de Wado. Boa pra dançar é também a sacana e desavergonhada “Teta”, com refrão que vai fazer corar os mais pudicos: “Ta guardado pra você amor, aceite/Ta guardado pra você, amor, o leite”.

A inteligência das canções pode ser percebida nas melodias envolventes e boas sacadas poéticas da grudenta “Fortalece Aí” e “Fita Bruta”, que revelam Wado em plena forma musical. Um grande disco pra acordar aqueles que se sentem órfãos da MPB vibrante e instigante.

Vá lá:


Cotação: 4

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Língua afiada

Tenho alguns amigos que torcem peremptoriamente o nariz para a Música Popular Brasileira. Parte por colonialismo, outra por preconceito e uma pequena parcela por soberba mesmo. A maioria acha que a MPB parou no tempo nos anos 70 e 80, quando os medalhões da música produziram suas melhores obras. Ora, ora, esses perderam o bonde da história e a oportunidade de se embevecer com gente que produz com muita qualidade.

A boa produção atual de MPB é pouco conhecida. Mas, muita gente bacana vem renovando os quadros, fazendo música de respeito. Um dos bons novos nomes é o de Kristoff Silva, que lançou recentemente Em Pé no Porto(2008). Esse norte-americano que veio para o Brasil com nove anos e fixou-se me Belo Horizonte se considera brasileiríssimo. Ouvindo o álbum não há como negar isso. Melhor ainda é perceber em seu trabalho um cuidado com as composições, com as melodias e arranjos que fazer desse seu segundo disco mais do que uma gratíssima surpresa.

No transcorrer de Em Pé no Porto, Kristoff mostra sua reverência ao bom português. Aqui, leia-se letras trabalhadas, com rimas ricas e quentes. Ele reverencia a língua de Camões como também as influências que dão conteúdo e consistência à sua MPB. Gente como o parceiro Luiz Tatit, Itamar Assumpção e Zé Miguel Wisnik, bambas paulistas da área, entre outros.

A intimidade com a língua e a paixão pelas influências estão explícitas, por exemplo, em “As Sílabas”, onde Kristoff brinca deliciosamente com a musicalidade do português: “Tem sílaba com “S”, não sobe não desce/ Tem sílaba que leve oscila e cai como uma luva na canção”. O canto falado de Tatit, que participa do disco em uma das faixas, transparece na ótima “Lig”. A melodia rebuscada típica de Wisnik ecoa em canções como “Em Pé no Porto” e “O Prazer”.

Como se não bastasse, Kristoff ainda se cerca das presenças luminares das grandes Ná Ozzetti e Jussara Silveira, que participam marcantemente do disco. Um dos grandes lançamentos de MPB do ano. E o rapaz ta só começando.

Vá, sem preconceito:

http://lix.in/5f7ae425

Cotação: 4

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Pérola desconhecida

A música chamou a atenção de meu colega Makoto. Ele é meu companheiro de jornadas sonoras no trabalho. Involuntário, diga-se de passagem, mas sempre atento. E quase sempre discreto sobre o que ouço. Quase sempre também omisso nessas horas. Emite raríssimas opiniões. Mas, dessa vez, trinta minutos depois da música volutear pela sala, ele se pronunciou lacônico: “Muito doido esse som”.

Esse som “muito doido” era de um cara chamado John Matthias, um amigo britânico (acredito que essa seja a sua nacionalidade) de Thom Yorke, cabeça da banda Radiohead, com quem tocou em The Bends(1995). As 12 canções de Stories from the Watercooler(2008), contudo, nem são assim tão “doidas” como definiu meu caro Makoto. Mas que o cara sai um pouco do lugar comum, isso ninguém pode negar. Mas, não se assuste, isso nada tem a ver com a praia do experimentalismo.

Matthias é um representante do folk que não se apega exclusivamente ao violão acústico. Em seu terceiro álbum, há exemplos legítimos do que há de mais tradicional nessa escola, como na tocante “Open”, com direito inclusive a uma cândida flauta, e na bela e serena “It's Not”. Mas, onde o músico, de boa voz grave, impressiona mesmo é quando insere suaves programações eletrônicas que encorpam canções já melodicamente parrudas, como são os casos de “Police Car”, com um arranjo de instrumentos incidentais enraizado no contraponto e, principalmente, em “Blind Lead the Blinder”.

A mistura equilibrada se faz ainda presente em outros grandes achados, como “King of a Small Town”, cujo andamento lembra “Clint Eastwood”, do Gorillaz, um tom mais abaixo, ou na roqueira e raçuda “Spinnaker”. Depois de três discos lançados lá fora no mercado, com esse grande Stories from the Watercooler, tá na hora de Matthias aparecer definitivamente para o mundo.

Veja se você concorda comigo:


ou

também:

por fim:

Cotação: 4

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Trilha sonora empolgante

É interessante a estratégia dos músicos quando querem praticar sonoridades diferentes daquela que sua banda oficial costuma apresentar. E ainda de quebra tiram umas férias de seus companheiros de estrada. São os chamados “projetos paralelos”. Os resultados, porém, quase sempre não são tão interessantes. Outras vezes, o produto é redondinho e instigante. Caso desse The Last Shadow Puppets e seu álbum The Age of The Understatement(2008).

Por trás do The Last Shadow Puppets estão Alex Turner, vocalista e compositor do Artic Monkeys, o amigo Miles Kayne, do The Rascals, e ainda James Ford, do Simian Mobile Disco, que assume a bateria, e Owen Pallet, do Arcade Fire, autor dos belos arranjos. Essa turma boa e talentosa partiu para um trabalho requintado, cheio de referências dos anos 60 e de trilhas sonoras, com muita orquestração e criatividade.

Pois é, quem está acostumado a Artic Monkeys vai ter um travinho ao ouvir este The Age of The Understatement. Mas, se permita mergulhar no universo proposto no disco, que passa inclusive pela grandiloqüência das trilhas assinadas por Ennio Morriconi para o gênero western spaghetti, como na ótima música que dá título ao trabalho e em “Only The Truth” com sua orquestração carregada. E por falar em filme, “In my Room” parece ter saúdo direto dos filmes de 007, daqueles que tinham ainda Sean Connery como astro principal.

Aliás, os violinos marcantes em perfeita harmonia com as guitarras e bateria marcial são um show a parte nesse disco com arranjos inteligentes e estética old fashioned. Em alguns momentos lembram até The High Llamas, como nas sofisticadas “Black Plant” e “Meeting Place”. Mais anos 60 impossível. Vale a pena ver esse filme. Sério candidato a um dos melhores do ano.

Para sentir na pele, vá:

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Glam comedido

Não sei por que cargas d’água passei batido pela notícia de que Brett Anderson havia lançado em março do ano passado seu primeiro trabalho solo. Não que o fato merecesse o toque de trombetas e rufar de tambores. Mas, para quem, como eu, era fã ardoroso dos britânicos do Suede, tinha que ter tido conhecimento do fato. Comi mosca. Por isso também resolvi resgatar Brett Anderson(2007) do turbilhão do esquecimento.

O disco do vocalista do Suede não tem aquela tintura glam e de exagero que fez deste grupo adorado na década 90 a ponto de ter o trabalho comparado ao do camaleônico David Bowie. Este solo de Anderson é mais calminho, beirando a melancolia. Está mais para, em alguns momentos, os épicos que Morrissey tentou construir depois que saiu do Smiths. É o caso por exemplo da linda “Love is Dead”, que começa com cordas em ebulição e segue com o exercício vocal emotivo do cantor.

Essa tendência ao teatral, ao grandioso pode ser visto também noutra bela canção, “The More We Possess the Less We Own of Ourselves”, com abertura que mais parece ter saído de uma ópera de Puccini. É o novo “glam” de Anderson. Tudo no disco vai no vácuo do comedido, da voz do cantor, antes mais desbragada, até as canções suaves e não tão empolgantes como “One Lazy Morning” e “Intimacy”. Ecos do Suede podem ser ouvidos na mais rocker “Dust and Rain”, com sua guitarra e andamento mais nervosos.

Mas, o belo timbre de Anderson e pérolas como a impactante “To the Winter”, uma balada que já considero clássica e quase me faz chorar, tornam esse álbum uma obra para se ter em qualquer coleção.

Vá sem medo:

http://www.4shared.com/file/46408098/375ce037/2007.html

Cotação: 4

terça-feira, 24 de junho de 2008

Tempero do passado

O caldeirão musical norte-americano que gerou, na primeira metade do século passado, ritmos como o foxtrot, charleston, o ragtime e o jazz, com todas as intersecções possíveis, vez em quando ecoa na música dos novos. Esse tempero de época pode ser sentido, por exemplo, no som que faz o bem intencionado grupo The Hush Sound, que lançou recentemente o animado e interessante Goodbye Blues(2008).

O disco foi editado pela mesma gravadora que apadrinhou o Panic! at the Disco e o Fall Out Boy, o que faz muita gente pensar que o The Hush Sound soe parecido com aquelas duas bandas fraquinhas que fizeram sucesso em todo o planeta. Mas, não é bem por aí. Ainda bem. Goodbye Blues tem mais consistência e referências culturais que credenciam o quarteto de Chicago, um dos melhores palcos da música negra dos Estados Unidos, a ser ouvido com atenção.

E não é só porque flerta com uma sonoridade com tintura jazzy, como as ótimas “Honey” e “Medicine Man”, que abrem magistralmente o disco, depois da melancólica “Intro”, todas abusando de um piano pop e que descamba em certos momentos para o vintage, que essa galera se mostra uma boa promessa. É porque, também, dosam essa influência com um indie-pop mais descarado, como acontece com as boas “As You Cry” e “Hospital Bed Crawl”.

A seu favor, The Hush Sound tem principalmente a voz de Greta Salpeter, que inclusive comanda garbosamente o notável piano. De registro agudo e muito afinada, essa menina é a alma da banda. Sinta a intensidade da cantora em “Break the Sky” e tire a prova dos nove. Infelizmente, o álbum peca pela pretensão. Salpeter disse que cada música ali era para ser vista como “uma pequena obra de arte”. Bobagem. Eles podem até ter amadurecido na terceira cria, como já foi notado, mas a sensação de cansaço criativo em algumas canções e a forçação de barra em outras, como na instrumental “Six”, não os coloca , ainda, no patamar de grandes artistas.

De qualquer forma, confira:

http://rs257.rapidshare.com/files/103573313/musiteka-adiosalosblues.rar

Se não deu, tente:

http://www.mediafire.com/?h1dmdus2dgt

Cotação: 3

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Em busca da inspiração perdida

Gilberto Gil estava com saudade de gravar. Também pudera. O último trabalho autoral foi o robusto Quanta, de 1997. E de lá para cá, depois de assumir o Ministério da Cultura, que lhe propiciou um travo como compositor, esperou a inspiração musical vir. Ela veio devagar e resultou em Banda Larga Cordel(2008), um álbum que traz o velho Gil com suas preocupações filosóficas e o movimento sonoro globalizante.

O lançamento de um disco de inéditas de Gilberto Gil é algo sempre a comemorar. Afinal, o bom baiano, o meu preferido entre os novos bárbaros que na década de 60 para cá deram uma boa mexida na MPB, tem sempre algo a dizer. E seus trabalhos são sempre acima da média. É o caso desse Banda Larga Cordel que, mesmo menos luminoso que o disco anterior, ainda tem boas idéias, melodias bacanas e brilho próprio.

O disco traz 16 canções em mais de uma hora de música. E temos que nos render em vários momentos ao gênio rítmico e poético do artista. Mesmo em músicas menos pretensiosas, como “Despedida de Solteira”, um forró suave e provocativo, o som seduz e encanta. O artista tenta engatar de novo sua tendência a filosofar que, quando dá certo, nos prende atenção, caso da linda “Não Tenho Medo da Morte” e embarca ainda em sensíveis declarações de amor, como a que faz a mulher Flora, na sensual “A Faca e o Queijo”, da mesma linhagem da clássica “A Linha e o Linho”.

Há que se prestar atenção também nas letras de Gil, como na mais dançante “Banda Larga Cordel”, onde brinca com as coisas da informática e o desejo do mundo inteiro de surfar nessa onda, como revela a inventiva poesia: “Diabo do menino agora quer/Um ipod e um computador novinho/O certo é que o sertão quer navegar/No micro do menino internetinho”.

Mas, o ministro se perde em composições não tão inspiradas, apesar da boa intenção, como “Canô”, em que homenageia os 100 anos da mãe de Caetano Veloso ou no forró “Não Grude, não”. A compensação vem com a bela versão de “Formosa”, de Vinícius e Baden Powell, de arranjo delicado, e em sambas com grandes harmonias como “Samba de Los Angeles” e “Amor de Carnaval”.

Por tudo isso e por ser Gil reanimado, vá lá:

http://rapidshare.com/files/121356507/xxx.0127.xxx_GGi_BLCordel08.rar

ou ainda:

http://rapidshare.com/files/121806152/GGi_BLCordel08.rar

Cotação: 4

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Lo-fi surpreendente

A banda costuma ser freqüentemente comparada ao papa do indie experimental, o canônico Sonic Youth. Mas, não embarque nessa. Não é porque o guitarrista deste grupo, Thurston Moore, apadrinhou o trio Tall Firs que este tenha que soar parecido. Too Old To Die Young(2008), o segundo álbum da turma, não lembra a barulheira pós-punk dos mestres e nem mergulha na distorção. Estamos falando aqui do mais puro lo-fi.

Se tem algo que aproxima o Tall Firs do Sonic Youth é o experimentalismo. A banda criada pelos vocalistas e guitarristas Aaron Mullen e Dave Mies e pelo baterista Ryan Sawyer faz uma espécie de folk experimental, marcando pelo diálogo enviesado de cordas e baterias, como é possível perceber logo de cara com a interessante “So Messed Up” em que a guitarra dedilhada soa desencontrada da percurssão marcada.

A textura rica criada pela guitarra e violões é cama para uma bateria um pouco mais enérgica e encanta os ouvidos. E se engana quem acha que Too Old To Die Young é repetitivo. Ouça o disco com ouvido de arqueólogo, buscando a riqueza do detalhe nos arranjos bem trabalhados e recheado de surpresas. Casos da ótima “Good Intentions” em que um piano sutil chama a introspecção para ser estilhaçado no final por uma guitarra mais pesada, ou na linda “Secret & Lies”, onde a voz árida e quase sussurrante de Mullen encontra o par perfeito num dueto com Holly Miranda, da banda The Jealous Girlfriends.

O novo trabalho do Tall Firs, banda que tornou-se um dos grandes achados este ano para mim, é de difícil audição. É anti-pop e nada radiofônico, mas tem uma virtude rara na maioria das bandas: é consistente e mexe com os sentidos.

Experimente:

http://rapidshare.com/files/110572451/lamadrigueradeconejo.blogspot.com_TF2OldToDieYng.rar

ou

http://www.sendspace.com/file/dxuuri

Cotação: 4

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Na cola do Radiohead

Sempre resisti a comentar o lançamento de EPs. Talvez porque não façam parte de nosso cultura musical, apesar dos antigos vinis compactos(alguém lembra?) ainda boiarem em minha memória de infância. E também por esses produtos não serem considerados pelos seus autores como uma tacada oficial. Contudo, resolvi abrir uma exceção depois de ouvir Vodka Bear Matreshka(2008), do trio On Wave.

Corri atrás do EP depois de escutar na internet “Double Click”. A canção logo me chamou atenção pela pegada a la Radiohead, uma de minhas bandas preferidas. A composição tem o mesmo espírito das criações mais pops da banda inglesa presentes, por exemplo, no ótimo Hail to the Thief (2003). A seqüência de baixo e bateria hipnóticas, a voz desesperançada e eloqüente do vocalista russo(sim, a banda é daquele distante país!) Michael e a boa melodia credenciaram minha busca por outras crias dos cossacos.

O EP Vodka Bear Matreshka tem sete músicas. A primeira, chamada singelamente “Track” é apenas uma introdução, um maquiavélico esquenta para a ótima e já comentada “Double Click”. Na seqüência, a bacana “Solo” reforça que os russos aprenderam bem na cartilha de Radiohead, Muse e outras galeras que gostam de rock com melodias fortes, alma exposta e guitarras efusivas.

Soberba é o que se vê na boa “What Angel Seen”, com solo de cordas pungente e interpretação desesperada. “Matreshka” é uma vinhetinha sem-vergonha e dispensável, enquanto “Be My Killer” é a mais radiofônica delas e pesada, com suas guitarras sujas e distorcidas.

Pensei em cotar o disco com um 5 redondindo(bom pra c...), mas como não sou nenhuma Márcia de Windsor(alguém lembra desse personagem?), pisei o pé no freio. Mas, fiquem espertos com o que esses camaradas russos podem aprontar. Eles disponibilizaram o download gratuito do EP:

http://uploaded.to/?id=kpuvfi

Se não der, vá na página dos caras, onde o EP está à disposição:


Cotação: 4

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Celestial grandeza

No clip da música "Gobbledigook"(procure o filme no lado direito do blog) , um bando de homens e mulheres peladinhos da silva brincam serelepes no meio de uma floresta. Dançam ao som de uma bateria tribal, palmas e coro minimalista que se contrapõem a uma melodia quente e alegre. A sonoridade lembra tudo, menos a banda islandesa Sigur Rós, autora dessa composição estranha ao universo do cultuado grupo.

Aquela música é o primeiro single do disco Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust(2008). É também a sua primeira faixa, o que fez muita gente pensar que a banda, autora do belo clássico Ágætis Byrjun (1999), estaria dando uma guinada na carreira, partindo para um som mais pop e fácil. Ledo engano. A audição do restante do álbum mostra que a galera capitaneada por Jón þór Birgisson (vocal e guitarra) continua fazendo um rock experimental, numa seara entre o psicodelismo e o folk completamente etéreos.

O novo álbum, que tem uma grandeza próxima ao citado Ágætis Byrjun sem, contudo, superá-lo, investe em coros angelicais e na instrumentação e arranjos delicados tanto quanto complexos. Casos de “Inní Mér Syngur Vitleysingur” e “Ara Batur”, onde um piano suave é cama para melodias envolventes que terminam apoteóticas com a entrada de cordas e metais suntuosos.

E assim a banda vai viajando. Ora entre canções mais soturnas e melancólicas como a longa “Festival”, lentíssima, quase uma oração com seu órgão e voz bem casados, ora pesando menos a mão com músicas mais solares, como “Ilgresi”, uma grande melodia, uma das melhores do disco, com seu violão acústico e jeitão folk e a terna e celestial “Goddan Daginn”, que remete um pouco a leveza dos “fofos” escoceses Belle and Sebastian. Enfim, um disco difícil para muitos, mas excelente e extremamente respeitável.

Faça essa viagem:

http://rapidshare.com/files/121016247/Sigur_R_s_-_Me__su____eyrum_vi__spilum_endalaust_-_2008.rar

ou:

http://rapidshare.com/files/121732690/SR-MSIEVSE08.rar

Cotação: 5

terça-feira, 17 de junho de 2008

Caldeirão mágico

Quando a maioria ouve falar de uma banda vinda de Olinda e ainda com um nome pomposo como Orquestra Contemporânea, já pensa: lá vem frevo do brabo. E essa é a primeira surpresa que se tem depois da audição do primeiro disco lançado pelo combo reunido por Gilson Filho, ex-Bonsucesso Samba Clube. Ouve-se tudo, uma fusão espertíssima de ritmos, menos o tal do frevo.

Mas, quem está acostumado às boas invenções da música pernambucana não vai estranhar. A Orquestra Contemporânea de Olinda mostra no CD, lançado em 2008 e que traz o nome da banda, um som fortemente autoral, fincado em ritmos brasileiros do passado e na black music. Estão lá no caldeirão mágico, o afrobeat, funk, jazz, samba e até o brega, aquele brega que fez a cabeça de toda uma geração nordestina nos anos 70 do século passado.

A banda já adianta no melancólico samba “Ladeira” as influências de um período em que a música brasileira era mais presente em nossos dials: “Vou correndo atrás da vida/Vou levando na bagagem um gosto de coisa do passado”. Ponto para eles. Tiné e Maciel Salu, os dois vocalistas que comandam no palco os outros dez músicos do grupo, trazem na grande bagagem o passado com toques contemporâneos.

Nesse mix de passado e presente, é possível visualizar o futuro. Músicas como a brega “Brigitti” aponta, podem anotar isso, uma tendência. Antes, a ótima Cidadão Instigado, do cerense Catatau, já havia cantado a pedra sobre a potencialidade ainda mal explorada do brega. Mas, esse é só um detalhe no baú de boas composições apresentado pela banda.

Qualquer dúvida, cole no ritmo funkeado de “Tá Falado”, no reggae suave de “Saúde II” ou na ótima “Canto da Sereia”, resgatado do cancioneiro de Oswaldo Nunes, que começa com um ritmo amaxixado para cair na fervura dos naipes de metais. Aliás, os metais são a alma desse bom disco de música brasileira. Pra balançar, vá lá:

http://rapidshare.com/files/107754357/ORQUESTRA_CONTEMPORANEA_DE_OLINDA.zip

ou

http://www.4shared.com/dir/6554549/73f92966/Orquestra_Contemporanea_de_Olinda.html

Cotação: 4

segunda-feira, 16 de junho de 2008

No caminho certo

Esse é mais um daqueles casos do teste do segundo disco. The Fratellis haviam lançado em 2006 Costello Music, álbum bem recebido pela crítica. Foram incensados e definidos como uma das grandes promessas do rock do Reino Unido. O blábláblá ajudou a criar aquele climão em torno do segundo trabalho do power trio formado pelos falsos irmãos, pelo menos no sobrenome, Jon Fratelli (guitarra e vocal) Barry Fratelli (baixo) e Mince Fratelli (bateria e backing).

Here We Stand(2008) tenta ampliar o público da banda, de forma instável, com seu rock básico. Diferente do álbum anterior, explicitamente cru e visceral, o segundo trabalho dos escoceses de Glascow é mais produzido e orgânico. As guitarras afiadas e a bateria pulsante dão as caras já na abertura, na bacana “My Friend John” e continua, chamando festa, com a inclusão de um piano nervoso e coro no estilo rockabilly de “A Heady Tale”.

Mais desacelerados, contudo mais consistentes, principalmente na marcação mais pesada e criativa da guitarra, os Fratellis presenteiam os ouvintes com boas composições, a exemplo da envolvente “Shameless” com sua pitada bluezeira, e a sedutora melodia de “Stragglers Moon”, que os aproxima da verve dos conterrâneos do Franz Ferdinand. Mas derrapam, porém, em bobagens, com a pouco inspirada “Mistress Mabel” e a dissimulada “Tell me a Lie”, entre outras.

A impressão que fica no final de tudo, 12 músicas depois, é que esses camaradas estão no caminho certo, precisando encontrar apenas o equilíbrio entre o talento de criar hits e a energia descontrolada, presentes no primeiro trabalho e o desejo de agradar o mundo inteiro, sensação deixada pelo segundo. Quer experimentar? Então vá em:

http://rapidshare.com/files/120576427/The_Fratellis_-_Here_We_Stand__2008_.rar.html

ou:

http://rapidshare.com/files/119200936/The_Fratellis_-_Here_We_Stand__2008_.rar

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Ela é quente mesmo

Ela começa a virar figurinha fácil nas passarelas de moda, já foi citada nas colunas de jornalistas “descolados” e já apareceu até num conhecido site da maior empresa de comunicação do país. A moça em questão é negra, turbinada, talentosa e atende pelo singular nome de Santi White, que é na verdade a voz e a força que está por trás de um grupo que mistura rock, punk, ragga e música eletrônica chamado Santogold.

Já tem uns meses que o Santogold circula pela internet como uma das boa novidades do segmento eletrônico no ano. Com o lançamento do primeiro álbum, que leva o nome da banda, confirma-se o nascimento de uma estrela. E, tenha certeza, o frisson em torno dela não é armação do mercado fonográfico. Santi White é realmente boa e carismática, com sua voz aguda e afinada, que encaixa perfeitamente em canções eletrônicas pop e eficientes, que tem tudo para fazer a alegria dos amantes das pistas.

Santogold(2008) é um dos álbuns mais quentes do ano. É música eletrônica sem perder de visto a energia roqueira, como na boa “Say Aha”, com pegada punk, uma das influências da artista, e na contagiante “You’ll Find a Way”. O bicho pega também no território do dub e reggae como nas matadoras “Shove It” e “Creator”, esta com loops alucinados e em diversas velocidades, no estilo “Créu”, mas, obviamente, com toda a criatividade que falta a este funk oco.

Mas, se você resistir ainda ao balanço contagiante de Santogold, tente ficar parado diante de “Unstoppable”, um dub hipnótico com refrão pra lá de lúdico, ou escutando “L.E.S. Artistes”, outro dos destaques desse bem engendrado e bacanudo trabalho.

Sinta o calor:

http://www.zshare.net/download/117320949e7191c3/

ou:

http://rapidshare.com/files/110987841/Santogold-Santogold.zip

Cotação: 5

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Ninando anjos

Do início do ano até este meado de junho de 2008 quando a Fleet Foxes lançou um primeiro balão de ensaio, os blogs e sites especializados em indie rock comentaram muito a respeito dessa banda de Seattle, a terra do grungie. A maioria tecia comentários elogiosos e criava expectativas para o disco completo prometido para esse meio de ano.

O burburinho surgiu depois que a turma lançou o cristalino EP Sun Giant(2008), num quadrante sonoro bem distante do barulhento e deseperado rock que levou, por exemplo, os conterrâneos do Nirvana e Mudhoney a marcarem época. No trabalho de apresentação, a molecada norte-americana nadava de braçadas num folk psicodélico e melancólico, que remetia a Van Morrison de Astral Weeks(1968) e às viagens mais experimentais dos Beach Boys.

O primeiro álbum de músicas inteiras, que leva o mesmo nome da banda, é uma continuação do EP. E com a mesma inspiração melódica que chamou a atenção da crítica. Abusando de corais afinadíssimos, Robin Pecknold (vocal e guitarra) e sua turma fazem pequenas canções de ninar para anjos, que eles próprios definem acertadamente como “barrocas”, caso das emocionantes “White Winter Hymnal”, com um arrepiante arranjo vocal, e na sessentista “Sun it Rises” e seu climático e onipresente violão acústico.

Impossível não voltar no tempo com essa formidável estréia do Fleet Foxes. A animada “Ragged Wood” poderia muito bem substituir “Let’s the Sunshine In”, na clássica cena do filme Hair em que a galera está na estrada em um conversível, cantando a citada música, a caminho do resgate de um amigo do exército à beira da ameaçadora viagem para a guerra do Vietnã.

Mas, não torçam o nariz. A música em questão aqui não cheira a naftalina. É apenas um revival, com cores modernas e muita personalidade, de um psicodelismo sem delírios e atolado até o pescoço no lirismo. Até os corações mais duros vão estremecer diante de pérolas como a épica “Your Protector” e a acalentadora “Meadowlarks”. Uma revelação e definitivamente um dos grandes álbuns lançados em 2008.

Cheque:

http://rapidshare.com/files/120464301/Fleet_Foxes_-_Fleet_Foxes_2008.rar

e os links para o EP Sun Giant:

http://www.badongo.com/file/8253362
http://www.zshare.net/download/88410958036a00/

Cotação: 5

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Sobrado do samba

O renascimento do samba vivido pela cidade do Rio de Janeiro nos últimos anos tem produzido talentos que bebem direto naquilo que o gênero tem de mais tradicional, reproduzindo a arte de Cartola, Zé Keti, Paulinho da Viola e outros bambas. Contudo, esse bom momento tem feito surgir também alguns grupos que tomam o samba como base, mas aglutinam a ele ritmos universais.

É o caso de Sobrado112, uma turma que morava no bairro da Glória, perto da emblemática Lapa, e resolveu se juntar para fazer uma fusão musical onde exercita, sem medo de ser feliz, todas suas influências sonoras. O resultado está no primeiro álbum da galera, Desmanche(2008), uma carta de intenções desigual, mas com algumas boas idéias que têm tudo para evoluir mais lá na frente.

Onde mais o grupo acerta a mão é na parte do bolo em que os músicos demonstram a paixão pelo samba e pelo jazz. Esse namoro ora é personificado em sambinhas puros, como na simpática “Sem Par” e no delicioso e arrastado sambão “Acionista da Boemia”, com poesia inteligente e participação especial do grande Aldir Blanc, ou na mistura do gênero com o jazz, a exemplo da fantástica “A Tira Gosto”, onde o trompete de Leandro Joaquim faz a diferença.

O jazz se diz presente também magicamente na bela introdução de “Sampranfant”, para se perder adiante quando a música vira um rap cantado em francês. Dispensável salada que pode ser vista ainda no ska-reggae instrumental “Juliana”, que parece deslocado no álbum. São pequenos tropeços que tiram um pouco a força de Desmanche, mas não o sentimento de que a banda pode fazer história. Vá de música brasileira:

outra opção:


Cotação: 3

terça-feira, 10 de junho de 2008

Metralhadora sentimental

É bem possível que depois da primeira audição de @#%&! Smilers(2008), o sétimo e mais recente álbum de Aimee Mann, o ouvinte tenha a sensação de já ter escutado aquelas doces e classudas canções nos trabalhos anteriores da artista. E vai estar com a razão. A compositora e cantora de belo timbre reprisa seu discurso intimista, suas melodias passionais e se utiliza da mesma instrumentação que apóia sua poética: violões, guitarras, piano e uma bateria coadjuvante.

Contudo, a norte-americana é tão competente naquilo a que se propõe, um folk na linha da grande Joni Mitchell, que a sensação de esgotamento criativo, no final das contas, pouco incomoda. Depois de arquitetar um disco conceitual, o razoável The Forgotten Arms(2005), no qual canta o relacionamento entre um boxeador e sua amada, ela destrava sua metralhadora giratória sentimental e volta a falar de desalentos, sofrimentos, perdas e danos, temas recorrentes para quem abre o coração e vive sem medo a maturidade (Mann nasceu em 1960).

Nesse sentido, @#%&! Smilers lembra um pouco Bachelor No. 2(2000), o terceiro - e para mim até agora imbatível - disco da carreira da artista. Em alguns momentos, Mann escancara sua poesia incendiária e melodias inspiradas. Está afiada na belíssima “Freeway”, onde um tecladinho animado se confronta com a passionalidade da canção, e em pelo menos mais duas jóias do disco, a tristíssima “It’s Over” e a evocativa, com seu coro de assobios, “Little Tornado”. Um som para os momentos mais delicados do dia.

Certifique-se se é por aí mesmo:

http://www.mediafire.com/?mty9xzr2w2h

ou

http://rapidshare.com/files/115822040/Aimee_Mann_-_Smilers__2008__SuperEgo_Records_.rar

Cotação: 4

P.S.: Quem comprar o CD, pelo menos lá fora, terá direito a um livro de 32 páginas com ilustrações do artista Gary Taxali.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Expressiva maturidade

The Zutons já foi considerada a melhor banda dos últimos tempos da última semana (copyright by Titãs) quando estreou, em 2004, com Who Killed the Zutons? Excesso típico da imprensa inglesa. Apesar do animado disco, os cinco músicos de Liverpool não chegaram a conquistar o mundo, como os conterrâneos mais famosos, os ícones Beatles, mas deixaram uma boa impressão.

No bom álbum seguinte, Tired Of Hanging Around(2006), o grupo manteve a chama acessa e o clima reforçado do rockão anos 70 e 80 que a banda sempre cultivou, dando um passo adiante. Influenciados por Kinks, Devo e Talking Heads, essa turma amadurece definitivamente e volta a destilar a mistura de rock básico, blues, soul, folk e indie na terceira cria, o recém-lançado You can do Anything (2008), um álbum cheio de gás e canções arrasa-quarteirão.

Pra quem curte o rock com equações musicais simples, o disco é uma bela lição. Desde a primeira música, “Harder and Harder”, cujo título traduz o espírito da mesma, The Zutons diz ao que veio, com seus solos de guitarras matadores, e melodias grudentas. “What’s your Problem” chega a seu um rock pueril de tão direto com sua alma setentista e “You Cold Make The Four Walls Cry”, com pitadas de black music, jogam o ouvinte numa outra e deliciosa época da história do rock’n’roll. Escute com atenção a guitarra endiabrada e a voz afinadíssima do vocalista Dave McCabe em "Family of Leetches", uma das grandes canções do trabalho e o saxofone correto de Abi Harding em quase todas as faixas.

E se você acha que um bom disco de rock não pode passar sem uma boa balada, The Zutons nos presenteia com a fantástica e climática “Dirty Rat”, uma das mais inspirada que já ouvi este ano. Aliás, este You can do Anything já é um dos melhores álbuns de rock de 2008 na minha humilde concepção.

Pra ouvir, experimente:

domingo, 8 de junho de 2008

Boa promessa

Rápidos no gatilho, vocais gritados, guitarras aceleradas e letras rasas, o mundo dos roqueiros de garagens tende a ser assim: urgente. É nessa toada que segue o bom grupo inglês Johnny Foreigner, power trio que lançou este mês seu debut, o pra lá de animado Waited Up 'Til it Was Light(2008), algo na linha do que faz algumas das bandas mais comentadas - no circuito alternativo - do ano, como Foals e Los Campesinos.

Explorando o contraponto dos vocais do também guitarrista Alexei Berrow, num tom que beira o desespero, e da afinada Kelly Southern, dona do baixo(o trio se completa com o baterista Junior Elvis), que vai do doce ao gritado em poucos segundos, o duelo rende bons momentos. É o caso de “Eyes Wide Terrified”, com coro dinâmico e refrão forte, e “Cranes and Cranes and Cranes and Cranes”, arquitetada em andamentos diferentes, ora relaxados ora nervosos, e que demostra que a banda, apesar de muito jovem, quis caprichar sim nos arranjos, ainda que, infelizmente, de forma irregular.

Mas, essa galera de Birminghan, que havia lançado até então um único e elogiado EP, Arcs Across the City, é fiel ao estilo garageiro, com composições rápidas e festeiras, como a ótima “Hennings Favourite” e “Yes, You Talk too Fast”, com riffs de guitarras convincentes e boas lapadas de distorção. Johnny Foreigner derrapa contudo nas raras baladas, como na dispensável “DJs Get Doubts” e em “Absolute Balance”, que exagera na microfonia. Enfim, excessos de quem está começando e se perde na vontade de abraçar o mundo. Fique com o lado mais bagaceira da banda.

O fato é que, com menos três ou quatros músicas, enxugando a parada, a banda teria feito um disco mais redondo e certeiro. Esses meninos podem dar ainda o que falar. Vamos esperar pelo equilíbrio. Enquanto isso, se tiver afim de experimentar, vá:

http://rapidshare.com/files/120481632/Espere_at__a_luz.rar

ou:

http://rapidsharees.110mb.com/files/Johnny.Foreigner.Waited.Up1.rar.html

Cotação: 3